Não somos gazelas, é verdade e, hoje, nem precisamos de pensar em atingir essas velocidades. A comida cai na prateleira de um supermercado. Há muito que deixámos a função de caçadores para nos transformarmos em sedentários. O comodismo tomou conta de nós. Conte quantas cadeiras existem lá por casa…
Em julho de 1988, Florence Grifith Jones tornou-se a mulher mais rápida do mundo, ao percorrer a distância de 100 metros em 10,49 segundos. Já Usain Bolt percorreu essa mesma distância em 9,58 segundos, a uma velocidade média de 37,58 Km por hora (agosto de 2009).
Considerados os mais rápidos do mundo, da espécie Homo sapiens, se estivessem em competição com a chita (Acinonyx jubatus), o felino teria de esperar uns longos 6,31 segundos pois, atingindo a velocidade de 110 km/hora, estima-se que ao fim de 3,27 segundos já estaria na meta.
O mesmo se poderá dizer de animais como o antílope, o cavalo ou a gazela! Talvez a marca de Bolt se possa comparar com a da impala!
Dir-se-á que esses animais têm uma estrutura própria para atingir estas velocidades, ao contrário do ser humano! Então o ser humano foi feito para quê? Estar de pé ou sentado? Correr ou andar?
Cada espécie desenvolveu ao longo dos séculos características que permitem adaptar-se às condições do meio que habitam. É a luta pela sobrevivência que possibilita aos mais aptos tomar vantagem na adaptação às condições ambientais em que se inserem. A chita, para sobreviver e se alimentar, necessita de caçar as suas presas através de táticas de alta velocidade e por isso desenvolveu características que lhe permitem ser dos animais mais velozes, de modo a caçar as suas presas e sobreviver. E a espécie humana como fez para se alimentar e sobreviver? Não foi pela velocidade, mas sim utilizando e aperfeiçoando a melhor das suas capacidades, a inteligência!
Vendo o fogo, aprendeu a técnica de o capturar e reproduzir, defendendo-se dos seus predadores, ao mesmo tempo que se alimentava. Observando outros animais desenvolveu meios de deslocação, utilizando a força de outros animais, ou a força dos motores que construiu!
Observando as aves desenvolveu formas de voar e dominar os céus! Mas, não se limitou a observar e construir, ainda desenvolveu e aperfeiçoou instrumentos, máquinas para registo de dados, para registo de imagens, etc… A evolução foi tal que acabou por se render à tecnologia. Já são raros os casos em que as pessoas varrem ou aspiram a casa, há uma máquina que faz isso sozinha…
Deixámos de ser caçadores e ficámos sedentários, o mundo mudou ou mudámos o mundo e deixámo-nos ir. Pois bem, quantas cadeiras existem em sua casa? Lembre-se que nem sempre foram precisas. Há não muito tempo, a cadeira estava associada à ideia de poder (trono, objeto próprio para reis) ou mesmo de conhecimento (cátedra da universidade). Num tempo em que não existiam escritórios, nem televisões…
O comodismo tomou conta de nós e a falta de tempo é o pretexto que usamos para nos deixarmos enamorar pelos facilitadores de vida ou tão só para nos deixarmos cair num confortável sofá… Claro, que depois, de perceber o conforto, é difícil sair de lá, mas se experimentar usar uma cadeira incómoda e desconfortável o tempo que vai estar sentado, por certo que encurta.
Contrariando toda a tecnologia e a evolução da espécie é sempre bom lembrar que o Homem foi feito para andar, para caminhar e não para viver sentado. A força muscular, a densidade óssea e a saúde mental agradecem que se mexa. Aspire/varra a casa, apanhe o lixo com uma pá, cozinhe, lave a louça, suba e desça escadas, desça a rua e volte a subir, levante pesos (pode ser um ou dois quilos de arroz) arrume gavetas, invente qualquer outro motivo, mas mexa-se.
Sentar, andar, correr são formas de postura e atitudes do ser humano, que o desenvolvem e completam, tornando-se na espécie “superior” de todos os seres vivos. Será assim? E até quando?
Fernando Fonseca
(Médico Ortopedista)
Li o artigo e efectivamente quando se puder evitar estar muito tempo sentado. Há muita coisa que nos faz ter actividade mesmo em casa. O melhor é na rua claro andar e subir escadas.
ReplyBom e explícito texto. Parabéns ao autor (meu particular amigo, professor Fonseca) pela sua reflexão.
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