O ideal será um equilíbrio entre o antepé (peito do pé e dedos) e o retropé (tornozelo e calcanhar). Nem sempre é assim e o fator biomecânico pode causar a maioria das lesões do pé, perna e anca. Conhecer a marca deixada pela sua pegada pode ajudar

Não parece, mas num pé humano existem 26 ossos, muitas articulações, músculos, alguns ligamentos e outros tantos tendões. Claro que cada par de pé é único e isso já percebemos quando o sapato esquerdo está bem e o direito nem por isso. Mas, há ainda outros fatores a ter em conta para um equilíbrio correto ou mesmo para prevenir lesões futuras, principalmente se usamos a marcha e/ou a corrida como atividade física diária.

A pegada neutra é o tipo ideal, o equilíbrio entre o antepé (peito do pé e dedos) e o retropé (tornozelo e calcanhar). Ou seja, dedos totalmente apoiados, sem zona de sobrecarga da zona plantar, 1/3 do bordo externo plantar apoiado, calcanhar e tornozelo alinhados. Nem sempre é assim. Tudo depende do tipo de pé e não é só o pé plano (apoio completo da planta do pé) ou o pé cavo (sem apoio do bordo externo plantar) que devem ser avaliados, há outras caraterísticas que contribuem para um mau desempenho da marcha e/ou corrida, desperdiçando energia, mas também porque abrem caminho a futuras lesões.

Durante a marcha ou corrida, a transmissão do peso do corpo é transferida em cada passada para o calcanhar e cabeça do metatarso, seguindo-se o despegue do solo, que é feito pelos dedos, sendo que o primeiro raio do pé suporta o dobro da carga de cada um dos outros dedos. Neste movimento, para além da articulação em si, há tendões que desempenham um papel chave na manutenção de todo o conjunto esquelético e articular em função, tais como o tendão de Aquiles, o tendão tibial posterior e anterior, os peroneais e o flexor comum dos dedos. Qualquer alteração deste equilíbrio articular e/ou tendinoso provoca quadros dolorosos e progressiva alteração da dinâmica do pé.

Se o pé for instável, estão reunidas as condições para surgirem algumas deformações como joanete, esporão ou outras deformidades típicas do pé. Se, além das alterações anatómicas, juntarmos o excesso de carga e treino intenso, a tensão agrava-se, por sobrecarga da atividade física e os desalinhamentos do pé acabam por se estender a outras parte do corpo, podendo mesmo desorganizar tornozelo, joelhos e anca.

O conhecimento da pegada individual é ainda importante para que cada um possa adaptar a marcha, corrida e uma qualquer outra atividade física, mas também o próprio calçado. Em atividade de corrida, é sempre muito importante que o contraforte, a parte que circunda o calcanhar, seja constituído de material rígido, mantendo o alinhamento do tornozelo, ao mesmo tempo que promove a estabilidade do calcanhar. Importante ainda é o uso de palmilhas de apoio, que devem ser sempre adaptadas individualmente, ajudando na distribuição correta da carga, evitando assim os indesejados pontos de sobrecarga.

Em situação de carga excessiva e sempre que se verifica uma incorreta distribuição de forças, há o risco de se abrir caminho às chamadas fraturas de fadiga, ou seja, pequenas fissuras nos ossos dos pés e das pernas.

De sublinhar que o pé, não é apenas um pé, mas sim o final de uma unidade motora que se inicia na anca, razão porque alterações na anca e no joelho também acabam por condicionar alterações da marcha e do pé. O inverso também é válido.

Se ainda tiver dúvidas de como identificar a sua pegada, ao sair do banho e com os pés ainda molhados, observe o desenho que os seus pés deixam ficar na toalha ou no chão ou, em alternativa, observe o molde que os seus pés deixam quando pisa a areia.

Gabriela Figo

(médica ortopedista)

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