Se a sala do bloco operatório é o altar sagrado da assepsia, não é menos verdade que todos quantos entram numa instituição hospitalar também transportam microrganismos que podem pôr em causa a segurança desejada. As regras interessam a todos e a cadeia de contágio pode ser interrompida por qualquer um de nós. É preciso estar informado

A prevenção da infeção hospitalar não é um assunto que só interessa aos outros. Se os profissionais de saúde devem estar obrigatoriamente despertos e atentos às questões de segurança, o cidadão comum acaba por pensar que não lhe resta nenhum papel a desempenhar nesta matéria. Nada mais errado. A segurança é um assunto que diz respeito a todos nós. Explicamos como.

Comecemos pelos germes invisíveis que andam de mão em mão aos milhares e que transportamos, porque os recolhemos num inofensivo corrimão de escadas ou no botão de um elevador. Andam sempre connosco. Alguns destes microrganismos são úteis outros nem por isso, principalmente se entrarem em contacto com uma ferida recente ou com um doente debilitado e internado em instituição hospitalar. Os beijinhos, os abraços ou os aparentes e inofensivos cumprimentos de mão, são propensos a essa troca de germes. Este é um primeiro passo a evitar.

As regras de segurança defendem que a prática de lavar as mãos deve ser posta em prática antes e depois de visitar um doente internado em instituição hospitalar e, não é em vão, é mesmo para que a troca de germes seja mínima. Da mesma forma que não é correto a relação entre médico e doente começar com um aperto de mãos. É certo que o médico pode lavar as mãos de seguida, mas se nesse mesmo dia observar 50 doentes, isso implica lavar as mãos pelo menos 100 vezes, antes e depois de consultar o doente. A este número ainda deve juntar o número de vezes em que lava as mãos antes de comer, após utilizar instalações sanitárias e sempre que manusear alimentos. Ou seja, ao fim de um dia, esse mesmo médico, terá lavado as mãos mais de 120 vezes.

Lavar as mãos continua a ser o comportamento mais seguro a adotar, seja pelo cidadão comum, seja pelo profissional de saúde. Mas, se estiver atento, pode e deve reparar que existem outros detalhes. Sempre que realizar um exame em que seja preciso encostar uma parte do corpo, deve verificar se o equipamento foi limpo e desinfetado. Seja, na área da radiologia, seja nos exames de oftalmologia em que necessita de encostar o queixo e a testa na mentoneira. O surfaneo continua a ser a substância usada para proceder a este tipo de desinfeção.

Há ainda outro tipo de cuidados a verificar. Não é por acaso que as nossas enfermeiras não usam verniz nas unhas ou andam com os cabelos sempre apanhados. Mais uma vez, são as normas de segurança e a proteção dos doentes que ditam estas regras. Pode ainda estar atento, ao trabalho executado pelas senhoras de limpeza. Se reparar bem, pode constatar que usam duplo balde. A opção não se deve a uma qualquer mania das limpezas, mas sim, porque um dos baldes deve ter obrigatoriamente água limpa, enquanto o outro transporta a água com o detergente.

Estes são apenas pequenos detalhes que as pessoas mais atentas podem captar dentro de uma unidade de saúde hospitalar. Por detrás destes exemplos, há uma cadeia de segurança e de prevenção da infeção hospitalar gigantesca, que abrange todos os setores e que culmina com a assepsia exigida dentro do bloco operatório, o lugar sagrado de uma qualquer unidade hospitalar. Não é um altar, mas é o lugar em que tudo e todos devem estar imaculados. A desinfeção e esterilização são obrigatórias e assumem contornos mais severos à medida que nos aproximamos de instrumentos ou de pessoas que estão em contacto direto com a cama cirúrgica e o doente.

O próprio ar em circulação deve ter esses cuidados e se a renovação obrigatória é efetuada pelas entradas de ar localizadas bem em cima da mesa cirúrgica, a saída desse mesmo ar é feita por aspiração junto ao rodapé, não utilizando por isso o mesmo circuito. A troca de doentes na mesa cirúrgica também não pode ser realizada ao acaso, há regras que não podem ser quebradas seja por que pretexto for e o expurgo e o circuito traçado para os vários materiais usados não é uma mania, é uma segurança.

Evitar as infeções hospitalares e/ou as complicações por má prática é o objetivo máximo de todos os procedimentos e obrigam uma unidade hospitalar a estar vigilante e atenta, prevenindo e avaliando, para que a infeção não seja uma surpresa. Em Portugal e por dia, há 12 mortes associadas a infeção hospitalar, sete vezes mais do que o número de mortes por dia em acidentes de viação. Se, quando vamos para a estrada tomamos medidas de prevenção, em nome da segurança rodoviária, por que razão não fazemos o mesmo quando entramos numa unidade hospitalar?

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