Não há filhos (nem pais) perfeitos e é normal a criança ou adolescente fazer uma birra, desafiar o adulto ou ser mais argumentativo. Mas a frequência e a intensidade desse comportamento pode passar a ser um problema…
Os problemas de comportamento são uma preocupação comum para os pais. Se, por um lado, eles podem ser considerados normativos, transitórios e até adequados para o desenvolvimento das crianças e jovens. Por outro lado, os problemas de comportamento podem agravar-se e manter-se ao longo do desenvolvimento da criança e do adolescente.
Existem três critérios importantes para distinguir comportamentos típicos de atípicos. Primeiro, a frequência do comportamento. Por exemplo, é considerado normal a criança/adolescente recusar fazer uma tarefa ou cumprir uma regra de vez em quando, mas pode ser um sinal de alarme se recusa quase sempre. Segundo, a intensidade do comportamento, ou seja, pode ser considerado normal a criança/adolescente responder que não quer fazer determinada tarefa ou cumprir uma regra, mas é um sinal de alerta se é habitual fazê-lo de forma encolerizada, empurrando ou batendo. Terceiro, o comportamento deve ser analisado dentro daquilo que é esperado para a sua idade. Por exemplo, é considerado normal a criança fazer uma birra ou o adolescente ser argumentativo e desafiar algumas regras. Contudo, nem sempre é fácil fazer esta avaliação, o que reforça a importância de despiste precoce e de consultar um profissional da área.
Como lidar?
Os problemas de comportamento não devem ser considerados como o resultado de um temperamento difícil da criança ou do adolescente, nem da incapacidade dos pais. Os pais competentes são aqueles que se esforçam para compreender o temperamento único dos seus filhos, adaptando as suas estratégias às circunstâncias e oferecendo a orientação adequada.
1. Aceite o temperamento único de cada criança/adolescente
Algumas crianças nascem com temperamento calmo, outras têm um temperamento mais instável e hipersensível. Os estudos demostram que 10% a 20% das crianças são agitadas, impulsivas e com reduzida capacidade de atenção.
É importante que os pais de uma criança com estas características tenham consciência que estes comportamentos não são intencionais e que as ajudem a canalizar a sua energia de forma positiva. É essencial compreender e adaptar-se ao temperamento único de cada criança, reconhecendo e valorizando os seus pontos fortes e aceitando as suas limitações.
2. A regra da atenção
As crianças e os adolescentes procuram a atenção das pessoas, especialmente dos pais, seja ela de natureza positiva (elogio) ou negativa (crítica). Se não receberem atenção positiva, irão tentar receber a negativa, portando-se mal, uma vez que isso é preferível do que não receber atenção nenhuma. Por isso, se pretender estimular comportamentos mais adequados no seu filho, deve dar-lhe atenção quando ele tem comportamentos positivos e adequados, mesmo que seja uma pequena ação. Deste modo, está também a fortalecer o vínculo emocional com o seu filho e a promover um desenvolvimento saudável.
3. Utilize o poder parental de forma responsável
O poder e as responsabilidades não devem estar igualmente distribuídos entre crianças e adultos. Os pais devem usar o seu poder de forma responsável, selecionando os problemas que exigem uma disciplina firme e uma supervisão rigorosa (por exemplo, comportamentos destrutivos) e aqueles que podem ser solucionados pelas crianças/adolescentes (por exemplo, o que vão comer ou vestir). Se as crianças nunca tiverem a oportunidade de experimentar e exercer poder de decisão é possível que o tentem obter de forma inadequada (por exemplo, recusando-se a vestir). As ordens são necessárias mas devem ser equilibradas com carinho, elogios e sensibilidade para com as necessidades específicas do seu filho.
4. Sinta o prazer de ser pai ou mãe!
Não há filhos perfeitos, assim como não há pais perfeitos. Os pais devem inventar o seu próprio estilo parental e descobrir o que melhor funciona para si e para a sua família. O mais importante é que desfrute da gratificante caminhada da parentalidade!
Rita Ramos Miguel
(Psicóloga Clínica)
De que falamos?
Os problemas de comportamento podem estar presentes desde a idade pré-escolar, podendo manifestar-se um padrão recorrente e que está presente a maior parte do tempo:
- Discute com os adultos;
- Desafio ou recusa em cumprir os pedidos ou as regras dos adultos;
- Provoca ou aborrece deliberadamente as pessoas;
- Culpa os outros pelos seus próprios erros ou mau comportamento;
- Sente raiva ou fica ressentido facilmente;
- É rancoroso ou vingativo e rápido a retaliar.
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