Ninguém quer que um doente morra do mal e muito menos da cura. Por vezes, a regra não é esta e as infeções associadas aos cuidados de saúde ainda continuam com números demasiado elevados. Higienizar as mãos continua a ter o enorme potencial de salvar vidas, mas não só
As infeções associadas aos cuidados de saúde constituem um dos eventos adversos mais frequentes nos doentes internados nas unidades de saúde, representando uma ameaça à segurança do doente e um problema com contorno de dimensão mundial.
Estima-se que em 100 doentes hospitalizados, sete doentes nos países desenvolvidos, e 15 nos países em desenvolvimento irão desenvolver uma infeção associada aos cuidados de saúde. Estas infeções podem ser uma causa de morte ou de incapacidade desnecessárias, mas também aumentam as resistências aos antimicrobianos, os custos, e o tempo de internamento hospitalar. O uso inapropriado de dispositivos médicos invasivos e antibióticos, procedimentos invasivos de alto risco, a imunossupressão, comorbilidades associadas, os extremos de idade (recém-nascidos e idosos) e uma utilização pouco rigorosa das práticas de controlo de infeção são condições que predispõem à ocorrência de infeções em todos os contextos de cuidados de saúde.
As infeções mais prevalentes em Portugal são as infeções do trato urinário (24,30%), pneumonia (18,80%) e a infeção do local cirúrgico (18,50%), representando grandes desafios neste domínio.
Em 2012, Portugal tinha uma taxa de prevalência de infeção associada aos cuidados de saúde de 10,5%, o que correspondia aproximadamente ao dobro da média europeia 5,7% e, cumulativamente, apresentava um consumo mais elevado de desinfetantes e antibióticos. A utilização inadequada e excessiva dos antibióticos leva a que as bactérias adquiram resistência a estas armas terapêuticas que, por sua vez, vão perdendo eficácia no combate às infeções. Para termos uma ideia da dimensão do problema, estima-se que atualmente as resistências aos antimicrobianos sejam responsáveis por 700 mil mortes por ano e prevê-se que, em 2050, sejam – a nível mundial – a segunda causa de morte, causando cerca de 10 milhões de mortes por ano. Números preocupantes que justificam o repensar de todas as estratégias.
Esta problemática impulsionou a criação de um programa nacional prioritário, o Programa de Prevenção e Controlo de Infeção e Resistência aos Antimicrobianos (PPCIRA), com objetivos que incidem na redução da taxa de infeções associadas aos cuidados de saúde, na promoção do uso correto de antibióticos e na diminuição da taxa de microrganismos com resistência a antimicrobianos.
Os esforços investidos no âmbito do PPCIRA refletiram-se numa redução da taxa de prevalência de infeção, que ficou localizada em 7,8%, no ano de 2017, significando que 1, em cada 13 doentes internados, tinha uma infeção associada aos cuidados de saúde, existindo ainda um espaço de melhoria para nos aproximarmos da média europeia.
Tendo em conta que grande parte destas infeções são evitáveis, é fundamental investir na sua prevenção e, consequentemente, na prevenção das resistências aos antimicrobianos. A implementação de boas práticas, com base em evidências científicas e o envolvimento dos doentes nos cuidados são fundamentais.
A higiene das mãos continua a representar a medida basilar na prevenção e controlo de infeção. Quando realizada de forma correta e nos momentos oportunos é a principal arma no combate às infeções em meio hospitalar. Esta premissa é atualmente inquestionável e comumente aceite, no entanto não era assim no século XIX.
Semmelweis, um médico obstetra húngaro considerado o percursor dos procedimentos assépticos, constatou que as duas enfermarias de um hospital de Viena apresentavam taxas de mortalidade por infeção pós-parto muito díspares, sendo numa delas bastante mais elevada. Numa enfermaria trabalhavam estudantes de medicina, que também faziam autópsias e na segunda enfermaria trabalhavam apenas parteiras.
Semmelweis tentou perceber as causas e acabou por concluir que os estudantes de medicina – que realizavam autópsias – poderiam ter as suas mãos contaminadas com agentes patogénicos que causariam a morte às parturientes. O que não acontecia com as parteiras, por não estarem envolvidas nas autópsias. Assim, o médico obstetra instituiu que todos os estudantes tinham que proceder à higiene das mãos, com uma solução desinfetante, entre as autópsias e o exame das parturientes.
Apenas com esta medida reduziu em 90% a taxa de morte por infeção. As questões de higiene à época eram amplamente ignoradas e ridicularizadas, o que levou a que sofresse a indiferença da classe médica, tendo sido despedido do hospital e posteriormente internado num hospício onde viria a morrer. Só alguns anos mais tarde é que Pasteur desenvolveu a teoria microbiana das doenças, o que veio dar a sustentação teórica que faltava às descobertas de Semmelweis.
Apesar de na atualidade ser inquestionável a importância da higiene das mãos, ainda hoje nos debatemos com o cumprimento rigoroso desta medida simples, mas que tem o potencial de salvar vidas.
Para além do cumprimento rigoroso da higienização das mãos, a higienização ambiental, realizada sob a orientação de normas de boa prática, com os produtos adequados e com a frequência necessária, a recolha segura de resíduos e o manuseamento seguro da roupa são outros pilares estruturantes, em matéria de prevenção e controlo de infeção. A utilização de equipamento de proteção individual (luvas, máscaras, proteção ocular….), que proporcione a proteção adequada aos profissionais, de acordo com o risco associado ao procedimento a efetuar, evitando-se assim a contaminação cruzada é outra condição basilar nesta matéria.
A capacitação do doente, pela transmissão de informação, é uma arma para a prevenção e controlo de infeção. No processo que antecede o internamento dos nossos doentes, procuramos sensibilizar para aspetos importantes neste domínio, nomeadamente o banho pré-operatório na véspera e no dia da cirurgia, até duas horas antes da hora de início da cirurgia, como forma de remover os microrganismos da pele, que poderão provocar uma infeção.
Alertamos ainda para a necessidade de não retirar os pelos da zona a operar, pelo facto de poder levar à formação de pequenas lesões, que sirvam de porta de entrada de microrganismos. Não colocar cremes ou outros produtos na área a operar, é outra recomendação, cujo objetivo é evitar acumulação de produtos químicos na pele, que podem interferir ou dificultar a ação dos desinfetantes.
No que toca aos hábitos tabágicos, recomendamos a cessação ou, caso a pessoa não consiga atingir este objetivo, sugerimos a diminuição do consumo, uma medida fundamental para a recuperação dos tecidos, entre outros aspetos relacionados com o risco anestésico.
Os níveis de glicemia elevados aumentam o risco de infeção do local cirúrgico, neste sentido, uma alimentação saudável e exercício físico adequado à condição clínica de cada pessoa são aspetos que contribuem para uma mais rápida recuperação e minimizam o risco de complicações.
Durante todo o período de internamento, alertamos ainda para a importância da pessoa se manter aquecida (roupão, aquecimento do quarto…), para não comprometer a irrigação da ferida operatória.
Depois, no momento da alta, a nossa preocupação centra-se na continuidade dos cuidados, e na capacitação do doente para os cuidados à ferida e para a deteção e notificação ao Centro Cirúrgico de Coimbra de eventuais sinais de alerta para a infeção do local cirúrgico.
Acreditamos que o doente é nosso parceiro em todo este processo e, se estiver na posse das informações necessárias, desempenha um papel fundamental na prevenção da infeção associada aos cuidados de saúde. Só assim é que podemos alcançar os melhores resultados em saúde e este é um trabalho que insistimos fazer em conjunto (doente e profissionais).
Sofia Mota
(Enfermeira)

Aí tenho a certeza que não acontece… e não falo de cor.. já aí fiz uma operação delicada, com 7 dias de internamente, outra, recentemente … E pelo senti e vi, vocês são campeões em tudo… Cuidados de excelência … à prova de de IH. Muito obrigada por tudo, parabéns
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