O número é escandaloso e as medidas adotadas perniciosas. Doze mortes por dia com infeções hospitalares é um número que deveria envergonhar todos os profissionais de saúde, eu próprio. Não deve ser um risco entrar num hospital, não é essa a visão que eu tenho da saúde e os médicos, enfermeiros, auxiliares, diretores e presidentes dos conselhos de administração não podem lavar daí as suas mãos. Em saúde, a responsabilidade é de todos.

A infeção hospitalar pode e deve ser evitada. Nem toda é certo, mas grande parte, principalmente numa altura em que o consumo de antibióticos está a diminuir, bem como a resistência aos antimicrobianos. Não sou eu que o digo, é a Direção Geral de Saúde, o mesmo organismo que andou a fazer contas e que concluiu que, em Portugal, todos os dias morrem 12 pessoas com infeções hospitalares. Sete vezes mais do que o número de mortes por acidentes de viação.

Se o número é assustador, a resposta da tutela é preocupante, quando anuncia prémios (leia-se incentivos financeiros) para os hospitais que consigam reduzir o número de infeções. Premiar o quê? O que deve ser uma preocupação diária? Procedimentos? E quando acabarem os prémios, voltamos ao aumento do número de mortes evitáveis?

A saúde não deve ser gerida por um reflexo condicionado.

António Travassos

(médico oftalmologista)

Deixar um Comentário