A prática desportiva deve ser sempre incentivada seja em jovens ou em adultos. Além de criar o gosto pela atividade física e hábitos de vida saudáveis, tem também importância na prevenção de algumas doenças como a obesidade (associada ou não com a diabetes), a hipertensão arterial e alterações do perfil lipídico no sangue (conforme comprovado por inúmeros estudos).

A redução de todos estes fatores de risco permite assegurar que, no futuro, estas crianças proactivas tenham menor incidência de doença cerebrovascular (AVC), ou de doença das artérias coronárias (angina de peito, enfarte).

A par da melhoria da função cardiovascular e respiratória, o exercício físico melhora a capacidade de resposta a infeções e aumenta a massa muscular, a massa óssea e dá resistência dos tendões e ligamentos. Igualmente na vertente psicológica da criança e/ou adolescente, melhora o seu nível de auto-estima, confiança e autonomia, ao mesmo tempo que reduz a ansiedade e a depressão. O desempenho cognitivo, a capacidade de concentração e a performance escolar também são beneficiados.

Existe risco de morte súbita durante o exercício?

O risco de morte súbita durante o exercício é um fenómeno raro mas existe, com uma incidência anual de cerca de 2 a 3 mortes por cada cem mil jovens atletas.

Sabe-se que cerca de 90 % dos casos são provocados por patologia cardíaca e que uma avaliação adequada e prévia à prática desportiva permite identificar a grande maioria das doenças implicadas.

Quais as principais causas cardíacas de morte súbita no jovem atleta?

1 – A morte súbita no jovem atleta não está geralmente relacionada com a aterosclerose das artérias coronárias, mas sim com anomalias do coração, presentes desde a nascença ou que se desenvolvem ao longo da infância e/ou adolescência.

2 – A cardiomiopatia hipertrófica é a primeira causa de morte neste contexto, sendo responsável por cerca de um terço dos casos documentados. É uma doença que atinge o músculo cardíaco (miocárdio), tornando-o anormalmente espesso. Nestas condições, o bombeamento de sangue pode ficar comprometido e o sistema elétrico do coração pode ser afetado.

3 – As anomalias das coronárias ocupam o segundo lugar, sendo as restantes patologias muito menos frequentes: miocardite, estenose (“aperto”) valvular aórtica, rutura da aorta em doentes com síndrome de Marfan, displasia arritmogénica do ventrículo direito (doença em que o músculo cardíaco do ventrículo direito é gradualmente substituído por tecido adiposo e fibrótico) e algumas arritmias primárias.

É possível prevenir esse risco?

Pais, professores e treinadores devem estar atentos a possíveis sinais de alarme e certos sintomas como:

– Dor torácica,

– Palpitações e síncope no contexto de esforço,

– Cansaço e dificuldade respiratória excessiva e inexplicável.

Independentemente destes sinais de alarme, todas as crianças ou jovens que pretendem praticar desporto em regime de competição devem ser submetidos a uma avaliação específica, uma vez que o exercício físico vigoroso aumenta em cerca de 2,5 vezes o risco de morte súbita.

Como o cardiologista pediátrico pode ajudar?

1 – Na avaliação de uma criança ou jovem para a prática desportiva, o cardiologista pediátrico deve efetuar uma história clínica detalhada, focando aspetos relevantes dos antecedentes pessoais e familiares.

2 – No exame físico, deve dar especial atenção à auscultação cardíaca, aos pulsos femorais, aos valores de pressão arterial e à eventual presença de características físicas próprias da síndrome de Marfan.

Esta avaliação clínica sem recurso a exames complementares de diagnóstico, já demonstrou não ter a sensibilidade suficiente para garantir a deteção da muitas das anomalias cardiovasculares causadores de morte súbita em jovens atletas. Por isso, desde 2005, as linhas de orientação europeias para rastreio de doença cardíaca em jovens atletas passou a incluir no seu protocolo de atuação, a realização de eletrocardiograma.

O jovem atleta deve ser sempre avaliado antes de iniciar a sua prática desportiva e depois em períodos regulares nunca superiores a dois anos.

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