Restringimos em grande medida a autonomia das crianças no mundo real, com medo que algo possa acontecer quando brincam na rua; mas proporcionamos total independência e autonomia no mundo virtual. Devem existir regras e um tempo máximo de utilização
As crianças começam cada vez mais cedo a utilizar tecnologias com acesso à internet, desde o uso de smartphones, tablets, computadores, televisões, ou consolas de jogos. Embora estas tecnologias possam oferecer vantagens educativas e facilitar algumas aprendizagens, a investigação neste domínio tem demonstrado de forma unânime que o seu uso excessivo, mais do que 2 horas por dia, está associado a vários problemas.
Mitos sobre o uso de écrans e tecnologias digitais
A utilização destas tecnologias é uma grande fonte de aprendizagens. Existem alguns benefícios na utilização das tecnologias. Por exemplo, ver vídeos educativos, quando acompanhados por adultos, pode ajudar a criança no desenvolvimento da linguagem. E jogos interativos, de forma moderada, ajudam na motricidade fina (isto é, na coordenação dos movimentos das mãos e dos dedos). Contudo, quando essa exposição excede as 2 horas diárias, pode estar associado a dificuldades na expressão e regulação das emoções, dificuldades de interação social, dificuldades de atenção, pode ter consequências negativas na visão e atrasar ou dificultar a motricidade grossa (ou seja, que a criança ande, corra, ou coordene diferentes partes do corpo). Quando esta utilização é feita à noite, antes de dormir, pode piorar a qualidade do sono e, consequentemente, ter um impacto negativo na concentração na escola no dia seguinte.
Estar no quarto com um tablet é mais seguro do que a brincar na rua?
Há uma mudança drástica na forma como hoje educamos as crianças. Temos medo que lhes possa acontecer alguma coisa no mundo lá fora, e por essa razão tendemos a sobre protegê-las e a restringir a sua autonomia no mundo real. Por isso, as crianças despendem hoje muito menos tempo a brincar, a falar ou tocar, ou a ter contacto visual com os amigos e familiares, reduzindo a sua participação em contextos sociais. Em contrapartida, quando uma criança está no quarto com um tablet com acesso à internet, estamos na verdade a proporcionar-lhe total independência e autonomia no mundo virtual. Sobretudo porque continua a ser difícil e complexo supervisionar e restringir essas atividades. Contudo, o mundo virtual pode expor as crianças a conteúdos inapropriados de violência ou de teor sexual e pornográfico, ou a contactos com pessoas mal-intencionadas. Várias horas de videojogos, sobretudo quando as crianças brincam e se exercitam pouco, podem também refletir-se em mais emoções negativas (como a raiva e a impaciência), numa menor coordenação e flexibilidade motora e em excesso de peso.
Quanto tempo de exposição?
A Organização Mundial de Saúde, a Academia Americana de Pediatria, e a Associação de Psicologia Americana, apresentam recomendações semelhantes ao tempo de uso de écran e tecnologias digitais por crianças.
Até aos 12 meses | É recomendado que não exista interação com qualquer tipo de écran ou conteúdo digital. |
Entre os 12 – 24 meses | É recomendada uma interação bastante limitada, devendo cingir-se a videochamadas com pessoas significativas que estejam longe (por exemplo, familiares). |
Entre os 2 – 5 anos | Não é recomendado que passem mais do que 1 hora por dia a interagir com écrans ou conteúdo digital. Os conteúdos devem ser apropriados à sua idade e deve acontecer na presença de um adulto para que este possa ajudar a criança a compreender o que está a ver. É recomendado que o tempo de écran seja planeado e não seja utilizado simplesmente para distrair ou acalmar a criança. Muitas das personagens que as crianças gostam também existem em livros ou brinquedos, sendo preferível utilizar esses formatos. |
Entre s 6 – 10 anos | É recomendado um máximo de 2 horas por dia, com limites consistentes no tipo de conteúdo a que têm acesso e no tempo de utilização. Os adultos continuam a ter um papel importante em ajudar a criança a compreender aquilo que vê no écran. |
É também recomendado que o uso de écrans não aconteça antes de se realizarem as tarefas da escola e deve-se procurar um equilíbrio entre competências digitais e promover que a criança se envolva em brincadeiras e atividades criativas e/ou desportivas.
Como promover um uso responsável dos écrans e tecnologias digitais?
1. Definir horários e tempos
Os horários para ver vídeos, desenhos animados ou para jogar devem estar claramente definidos. Crianças um pouco mais crescidas devem ser envolvidas no processo de decisão, mas não se esqueça que é o adulto que tem a responsabilidade e a maturidade para saber o que é melhor para a criança.
2. Eliminar écrans à mesa
As refeições devem ser momentos de prazer e convívio, e uma oportunidade para todos partilharem o seu dia. É também um momento para as crianças mais novas explorarem os sabores e texturas dos alimentos. Ao eliminar os écrans criamos um ambiente mais focado e sem distrações digitais, onde as crianças aprendem a valorizar a alimentação e fortalecem vínculos familiares.
3. Conversar sobre o que veem
Desde cedo devemos partilhar com as crianças os riscos da utilização excessiva e dos perigos online, como por exemplo, perder a noção do tempo enquanto jogamos, não conseguir parar de jogar ou de ver um vídeo para ir à casa de banho, ou deixar de fazer outras tarefas (por exemplo, fazer os trabalhos de casa ou arrumar o quarto).
4. Promover interesses fora do mundo digital
Criar oportunidades para que a criança se envolva em atividades desportivas ou artísticas, percebendo quais são os seus interesses.
5. Fazer aquilo que queremos que as crianças façam
Se o nosso objetivo é que a criança diminua o seu tempo de écran, o adulto tem de dar o exemplo. As crianças aprendem muito por imitação, por isso é muito importante que os adultos à volta da criança tenham consciência do seu comportamento com écrans e o mundo digital. Por exemplo, usar o telemóvel durante as refeições, interromper conversas para verificar notificações ou utilizar o écran como principal forma de lazer.
6. Um dia comum para “desligar”
A família pode estabelecer um dia por semana, se possível, para ninguém utilizar écrans ou tecnologias digitais. Assim estão todos mais disponíveis para se dedicar às relações interpessoais e criar memórias em família.
Rita Ramos Miguel
(Psicóloga Clínica)
Concordo plenamente com a DrªRita R.Miguel.Felizmente os meus 2 netos são muito acompanhados pelos pais,praticamente não veem TV, fazem muitas actividades ao ar livre, não teem telemóveis e os pais também não os usam durante as refeições. Têm muitos amigos e festas de aniversários e parecem ser muito Felizes e Sociáveis.Têm 10 e !2 anos
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