É uma área extremamente complexa, seja porque suporta estruturas, seja porque é por ali que passam corredores filigranados vitais. É de difícil descrição, mas sem a base do crânio não vivíamos, as lesões são de evitar

Fica entre o cérebro e a coluna e é considerada a região anatómica do corpo humano mais complexa. A base do crânio constitui o pavimento da cavidade craniana, servindo de sustentação e ao mesmo tempo entreposto, entre o cérebro e todas as outras estruturas do corpo humano.

A complexidade da base do crânio justifica-se não só, mas também, pela confluência dos cinco ossos do crânio (etmoide, esfenoide, occipital e ambos temporais) naquele mesmo espaço. Cada um desses ossos desempenha um papel importante na estrutura e na proteção do cérebro. O osso occipital é o osso localizado na parte de trás do crânio. Ele forma a parte posterior da base do crânio e possui uma abertura chamada forame magno, por onde passa a medula espinhal. O osso esfenoide é um osso complexo que forma a parte central da base do crânio. Ele possui várias projeções ósseas, como a sela túrcica, que abriga a glândula pituitária, e asas maiores e menores, que fornecem suporte para os lobos temporais do cérebro. O osso temporal é um osso localizado nas laterais do crânio. Ele possui várias estruturas importantes, como o canal do nervo facial, que é responsável pela movimentação dos músculos faciais, e o canal auditivo, que abriga o ouvido interno. O osso etmoide é um osso localizado na parte anterior da base do crânio. Ele possui várias projeções ósseas, como as conchas nasais, que ajudam a filtrar e humedecer o ar que respiramos, e o crivo etmoidal, que forma parte das cavidades nasais.

Mas, para além da necessidade de manter ativa esta função de suporte de estruturas, é também na base do crânio que se faz a comunicação entre o cérebro, os órgãos dos sentidos e a regulação de todos os tecidos do corpo, internos e externos. Através dos orifícios nesta estrutura circulam os diversos nervos cranianos (12), responsáveis pelo olfato, visão, movimentos oculares, sensibilidade e movimento da face, paladar, deglutição, fonação e movimento de alguns dos músculos do pescoço. É por ali que passam as artérias vertebrais e as artérias carótidas internas que levam o sangue ao cérebro.

O orifício central, conhecido por forâmen magno, serve para a passagem da medula espinal superiormente até à cavidade craniana, onde ela é contínua com a extremidade inferior do bulbo, que é a porção terminal do tronco encefálico. Além da medula espinal, das suas meninges e do líquor (líquido de sustentação e trocas do cérebro), o forame magno também permite a passagem das artérias vertebrais, das artérias espinais anterior e posterior, das veias durais, e das raízes espinais do nervo acessório. Além disso, o ligamento apical do dente do áxis e a membrana

tectória, que é a continuação superior do ligamento longitudinal posterior, atravessam o forame magno, fixando-se na superfície interna do osso occipital.

Externamente, nas margens anterolaterais do forame magno, encontramos ainda os côndilos occipitais, que se articulam com as facetas articulares superiores das massas laterais do atlas. Essas articulações permitem alguns movimentos da cabeça, como por exemplo quando acenamos com a cabeça para dizer que sim. 

Na linha média da borda posterior do forame magno, origina-se uma crista proeminente chamada de crista occipital externa, que se estende até à protuberância do osso occipital (protuberância occipital). O termo forame vem da palavra em latim para “orifício”. Essencialmente, todos os foramina (plural) do crânio são orifícios. Eles são vias de passagem através dos ossos cranianos que permitem que diferentes estruturas dos sistemas nervoso e circulatório entrem ou saiam do crânio.

Dos restantes orifícios na base do crânio, de referir os foramina olfativos, entre os olhos, que permitem a passagem, através do osso etmoide, dos finos ramos dos nervos olfativos. Pela sua diminuta espessura verifica-se com alguma frequência – cerca de 5% – a sua lesão e perda de olfato, mesmo com traumatismos cranianos ligeiros.

Existem ainda os canais óticos, por onde passam os nervos óticos, que permitem a passagem dos estímulos visuais dos globos oculares para o córtex visual no lobo occipital, mas ainda muito outros orifícios, destinados à passagem de nervos cranianos, artérias e veias, numa estrutura filigranada e complexa.

Essa complexidade e mobilidade, já que a base crânio estabelece a transição e união entre a cabeça e pescoço, representa também a sua fragilidade e as lesões que podem afetar a base do crânio podem também ser sérias e letais. Como exemplo, pelo forame magno, cuja dimensão é inferior a uma moeda de 2 euros, passam as estruturas essenciais de comando das funções do corpo. Assim sendo, um pequeno tumor ou uma fratura podem comprometer as funções e vida do corpo, já que por esse orifício se estabelece a união entre o tronco cerebral e a porção superior da medula espinal. 

O tronco cerebral responsável por toda a regulação do funcionamento das funções do corpo e a porção superior da espinal medula, responsável pelo movimento de todos os músculos, inclusivamente os respiratórios. Uma lesão nesta zona pode implicar a morte e é também por essa razão que, em caso de morte cerebral, são exatamente as funções do tronco cerebral as que são testadas para confirmar a vida ou a morte. Ou seja, a morte é decretada quando há uma paragem irreversível do funcionamento do organismo como um todo, sendo o todo maior que a soma das partes. A base do crânio é tão só o abrigo das inúmeras estruturas vitais.

Gonçalo Costa
(Médico, Neurocirurgião)

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