Pensar positivo e manter uma boa auto estima são fatores protetores que nos protegem a um estado de síndrome de Burnout.

Quando alertamos para a existência de Burnout, queremos referir um conjunto de emoções e comportamentos que surgem no exercício profissional e que alteram profundamente o desempenho e a saúde das pessoas, criando um estado de exaustão física, emocional e mental, fruto do stress no trabalho. Podemos dizer que o stress existe quando um indivíduo faz uma avaliação das exigências das situações em que está envolvido, tendo a perceção que, naquele momento, ultrapassam os seus próprios recursos.

Somos de opinião que cada indivíduo se move pelo conjunto de variáveis motivacionais, sendo certo que estas variáveis não são puramente cognitivas e resultam da identidade de cada um, construída na relação com os outros. Deste contacto relacional emerge uma pessoa com expectativas sobre si, sobre os outros e sobre o mundo e aprende formas de lidar com os acontecimentos de vida. A cada experiência vivenciada ao longo da vida, cada um de nós vai interiorizando noções sobre as suas aptidões, níveis de desempenho, grau de sucesso em relação aos objetivos previamente traçados. Deste modo, o indivíduo possui expectativas altas ou baixas, de acordo com a sua trajetória pessoal e assim construirá o seu comportamento, a sua atitude, a sua motivação, o seu autoconceito e a noção de autoeficácia.

É evidente que o sentimento positivo destas emoções pessoais é um fator protetor perante os fatores de stress, materializado na capacidade de resiliência, da superação da frustração. É aqui que, provavelmente, reside a resposta ao porquê de alguns sujeitos, expostos às mesmas adversidades, não sucumbem, conseguem manter uma boa autoestima e arranjam motivação para continuar a lutar.

Mas, para além destas características pessoais que podem ajudar a suportar condições adversas no trabalho, há exigências no ambiente profissional que ultrapassar as defesas individuais e a própria capacidade de lidar com os agentes agressivos com que cada um se depara. Podem apontar-se como funcionando como fatores de risco, características negativas como a pressão do tempo, trabalho por turnos, fraca autonomia, conflitos interpessoais, condições básicas agrestes, má comunicação, organização deficiente da instituição empregadora e aspetos disfuncionais na carreira profissional e da personalidade do indivíduo.

Sabemos que nos tempos mais recentes, as dificuldades laborais são muitas e mais potenciadas com um possível espectro do desemprego. Detetam-se já nas pessoas sintomas de alguma frustração, de insatisfação com os recursos, disfuncionais e desmotivados com alguma mercantilização das relações nas instituições de saúde.

Mas serão todos estes casos prenúncio de existência de Burnout? São fundamentalmente condições propícias à precipitação deste estado.

Há três tipos fundamentais de manifestações que nos levam a fazer o diagnóstico de Burnout:

– Alterações físicas como: fadiga, cefaleias, manifestações psicossomáticas, alterações do sono;
– Alterações de natureza emocional, que se exteriorizam por sentimentos de fracasso, desilusão e até sintomas depressivos;
– Alterações do comportamento habitual e o recurso à utilização de drogas, álcool e até drogas ilícitas.

Como combater estes estados de Burnout e prevenir que se chegue a situações tão penosas e disfuncionais?

1 – Tentar diminuir os fatores de stress e ensinar aos profissionais aptidões interpessoais,
2 – Melhorar a comunicação nas equipas,
3 – Descriminar prioridades na atividade médica e na vida pessoal,
4 – criar condições de trabalho mais satisfatórias.

O nosso dia-a-dia depende também da forma de lidar com a vida, enfrentar os problemas e dificuldades, cuidar dos momentos de lazer e de atividades sociais.
Em casos já estabelecidos, em que há estados de sofrimento graves, quer a nível emocional quer físico, teremos que utilizar os recursos terapêuticos que passam por intervenções individuais e em grupo, disponibilizando psicoterapias de vários tipos, terapêuticas farmacológicas, tempos de relaxamento e de ausência temporária do trabalho.

Diremos finalmente que os efeitos do stress atuam nas pessoas de acordo com a avaliação que cada um faz das circunstâncias, das necessidades e das aptidões próprias, de saber lidar com o tempo e recorrer às suas próprias energias pessoais.

António Reis Marques (psiquiatra)

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