Era frequente pedir para lhe repetirem as coisas. Os pais achavam que havia uma falta de compreensão da linguagem e nem pensaram que o problema poderia ser surdez. Afinal, Maria tinha mesmo um problema de audição de grau severo.

O som faz parte integrante do quotidiano de todos nós, de tal forma que nem sempre lhe atribuímos a devida importância. Os estímulos sonoros apresentam-se no nosso dia-a-dia sob diferentes contextos, sejam culturais e sociais, seja no domínio da linguagem. E, se os estímulos que nos chegam por via auditiva, deixam as suas «marcas» no nosso desenvolvimento psíquico e emocional, da mesma forma a sua privação também acarreta prejuízos na comunicação e na aquisição das competências cognitivas e sociais.

A adaptação protética e a reabilitação auditiva na criança são técnicas fundamentais para diminuir o impacto da surdez na aquisição da linguagem. Eis um caso: a Maria (nome fictício), 7 anos, veio à consulta de otorrinolaringologia, para despiste/avaliação de surdez. Os familiares referiram que estavam preocupados “quanto à compreensão da linguagem, mais do que com a audição em si” e deram alguns exemplos de situações diárias em que notam alguma dificuldade:

– O volume da TV muito alto;

– Senta-se especialmente perto da TV, quando o volume é adequado às outras pessoas;

– Pede frequentemente que lhe repitam as coisas;

– Evidencia um comportamento inadequado;

– Tem falta de concentração;

– Rendimento escolar aquém das exigências programáticas.

Após a observação e realização dos exames complementares (audiograma infantil, impedanciometria e potenciais evocados auditivos do tronco cerebral), foi diagnosticado que a Maria tinha uma surdez neurossensorial de grau severo, nas frequências acima de 500 Hz, quer no ouvido direito quer no ouvido esquerdo, tendo sido orientada para reabilitação auditiva com próteses auditivas retroauriculares bilateralmente.

Durante o período de adaptação inicial (primeiros 2 meses), efetuou 6 consultas de audiologia, de forma a ajustar as próteses auditivas mediante as informações obtidas nos exames de terapia da fala, nos exames de avaliação funcional e na informação trazida pelos familiares, e evidenciou melhorias substanciais, quer ao nível escolar quer no contexto familiar.

Neste momento, a Maria possui uma audição «socialmente aceitável», devido ao uso das suas próteses auditivas, fato comprovado clinicamente com a obtenção do seu limiar auditivo através do ganho tonal e vocal e mediante a observação do médico otorrinolaringologista.

Renato Moreira

(audiologista)

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