Suspender, manter ou substituir a medicação habitual antes de uma cirurgia é uma decisão unicamente médica. Muitos medicamentos podem interferir com determinado tipo de cirurgia e/ou anestesia, mas não pode ser o doente a decidir quais são. Por outro lado, os chamados produtos naturais também podem interferir e por isso é recomendado que sejam interrompidos duas a três semanas antes
Esta é uma pergunta muito frequente e de extrema importância. De facto, muitos dos medicamentos que tomamos por rotina em casa podem interferir, não só com a cirurgia a que vamos ser submetidos, mas também com a anestesia.
De um modo geral, não devemos parar de tomar os medicamentos espontaneamente pois, se há alguma medicação que devemos interromper, outra pode ser substituída e também há medicamentos que nem podem ser interrompidos, caso contrário podemos ter uma descompensação grave da nossa doença e pôr em causa a nossa cirurgia. É por isso muito importante que na consulta médica pré-operatória (do cirurgião ou do anestesiologista) leve consigo a lista de todos os medicamentos que faz (com o nome/marca, dosagem e posologia).
Existem medicamentos que interferem com a nossa coagulação (isto é, que fazem com que o nosso sangue fique mais “fluído”) e são usados para evitar a formação de trombos em contexto de arritmia (fibrilhação auricular), história de enfarte cardíaco ou AVC (acidente vascular cerebral). Estes medicamentos podem ser antiagregantes (como é o caso da famosa Aspirina® ou ácido acetilsalicílico,
clopidogrel ou ticlopidina), anticoagulantes (caso do varfine ou dos novos anticoagulantes como o rivaroxabano ou Xarelto®, apixabano ou Eliquis®, dabigatrano ou Pradaxa® e o edoxabano ou Lixiana®), heparinas (caso da enoxaparina ou Levonox®) ou medicamentos heparinoides (caso do sulodexida ou Vessel®).
Dependendo da dose, da função renal de cada um (que se avalia nas análises sanguíneas), do peso, da idade e da doença que motivou a sua toma, estes medicamentos devem ser suspensos por dias ou horas, mas alguns nem sequer devem ser interrompidos. Só após avaliação médica é que saberá qual a recomendação adaptada à sua situação!
Já certos medicamentos para a hipertensão não devem ser tomados no dia da cirurgia, mas também existem outros que nunca devem ser suspensos (caso dos beta-bloqueantes, como por exemplo o carvedilol). Mais uma vez a recomendação de suspensão ou não deve ser realizada pelo seu médico, pois a regra não é para todos, e existem imensos fatores que estão envolvidos na decisão clínica.
Regra geral, os antidiabéticos orais (medicamentos usados para a Diabetes Mellitus) são suspensos no dia da cirurgia (ou com pelo menos 12 horas antes da cirurgia) e as glicemias (nível de açúcar no sangue), durante o dia da cirurgia, são controladas com insulina, se necessário. Aliás, não se preocupe de todo se tiver que tomar insulina durante o dia da cirurgia! Em princípio, tudo volta ao normal e continuará a tomar os seus medicamentos orais para a diabetes apenas quando voltar para casa.
Caso seja um diabético a fazer insulina será muito importante trazer o seu esquema de posologia habitual (com os nomes das insulinas que faz), para que o seu médico possa tomar nota de tudo e dar continuidade durante o período da cirurgia. Depois, se estiver a fazer medicação psiquiátrica também será muito importante a equipa médica perceber o que faz e a que horas, para mantermos o mesmo esquema, pelo menos, no dia a seguir à cirurgia.
Não esqueça algo muito importante, mas que muita gente subvaloriza: caso faça produtos de ervanária ou medicação à base de produtos naturais, estes também podem interferir com a cirurgia ou anestesia, ou porque aumentam o risco de hemorragia ou porque interferem com algumas medicações usadas no período peri-operatório. Por exemplo, deve sempre informar o seu médico caso tome produtos com alho, chá verde, ephedra, erva de S. João, Ginkgo Biloba, Ginseng, kava kava, aloé vera, angélica, bagas de gogi, castanheiro-da-índia, dedaleira, dong quai, feno–grego, loimnina, maracujá, papoila californiana, pilriteiro, pimento ou malagueta, quinidina, serenoa ouy toranja. De um modo geral, a Sociedade Americana de Anestesiologia sugere que estes produtos sejam interrompidos 2 a 3 semanas antes do ato cirúrgico programado.
São imensos os fatores que interferem com a decisão médica de suspender, continuar ou substituir os seus medicamentos antes da cirurgia (idade, função renal, coagulação, tipo de cirurgia, comorbilidades, scores clínicos…), por isso, o meu conselho é: caso seja operado, traga sempre a sua lista correta de medicamentos (com a dose, posologia e marca ou nome do medicamento) e pergunte sempre ao seu médico o que deve suspender, continuar ou substituir ou qualquer outra dúvida que tenha.
Ana Bernardino
(Médica, Anestesiologista)

Boa tarde.
ReplyVou ser operada a um joanete o que implica a colocação de um ferro.
Tomo 1 Olanzapina 15 mg, 2 Depakine 500 mg (como moderador de humor), e 1 Terciam 100 mg. Pergunto se poderá interferir com a anestesia ou o pós-operatório. Obrigada
Bom dia, A Dra. Ana Bernardino, médica anestesiologista, não consegue responder com precisão à sua questão, uma vez que desconhece qual a anestesia e a cirurgia proposta, quais as comorbilidades e contexto clínico. Em principio essa medicação não terá implicações preocupantes com a anestesia. No entanto, recomenda-se fortemente que fale previamente com o seu anestesiologista antes da intervenção. Esperamos ter ajudado.
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