Ontem, fiquei envergonhado, por ser português e por ser médico. Nunca me tinha acontecido, mas à medida que via a reportagem na TVI sobre o caos nas urgências dos hospitais portugueses percebia melhor o estado a que chegou Portugal. Senti como trabalham alguns médicos e aprofundei o que já sabia dos negócios entre público e privado. A contratualização de serviços públicos a privados foi uma garantia política para o bom funcionamento das urgências. Ontem ficou provado que não.
As câmaras ocultas relevaram um estado de 3º mundo, a que a jornalista junta o comentário de cenário pós tsunami. Claro que agora a gripe não pode ser a desculpa para aqueles corredores cheios de portugueses doentes, gente que acredita que o hospital os pode salvar, mesmo que para isso tenha de esperar horas ou dias, acampados em corredores que, à falta de camas, estão a substituir as enfermarias dos hospitais portugueses.
A triste história não contou as desventuras de um hospital português, relatou as calamidades de 15 hospitais portugueses, os principais.
Retive duas histórias, a do idoso que fez um amigo na maca ao lado, a quem deu a mão, até serem separados, e a dos familiares que foram obrigados a comprar fraldas e que doaram as restantes aos outros utentes. Quando falhamos a esta dimensão, como poderemos fazer bem tudo o resto?
Como podem os profissionais ter consciência e certezas dos seus atos? Como é possível estar 6 horas numa urgência à espera de ser observado por um médico? Como este médico pode ter certezas?
Amaldiçoadas câmaras ocultas que me mostraram o país que eu não queria ver. Os responsáveis por tudo isto conseguem dormir, ou sequer respirar?
Um país sem hospitais é o quê?
António Travassos
(médico oftalmologista)
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Dá pena. É incrível Portugal estar numa situação destas. Tanto dinheiro o Governo gasta desnecessário, e em coisas necessárias não o faz. A saúde, e cuidados aos doentes tudo isso está esquecido no nosso país. Como pode um médico fazer algo mais pelo docente, se não lhe é permitido?? Dinheiro, bons carros,grandes férias, e bastante dinheiro no banco, é a prioridade dos nossos governantes, infelizmente. Não vou continuar minha escrita pois já estou muito emocionada. Compreendo perfeitamente como alguns médicos se sentem, sendo criticados pelo público, e sem terem culpa alguma.
ReplyA Saúde em Portugal – tal como outros sectores públicos deste pobre país que não tem quem o dirija nem o defenda – é hoje um teatro de sombras em que “nada é o que parece nem nada parece o que é!” – é preciso ter muito cuidado, porque a realidade é hoje filtrada pelos “mais fortes” (grupos economicos internacionais que tudo vêem, tudo manipulam, tudo utilizam em proveito próprio: compram paises, povos, tradições…
ReplyCâmaras ocultas são as setas dos actuais Robins dos Bosques!
Às claras, logo a seguir, já tudo está politicamente “a brilhar” – lembram-se?
Mas tudo isto apenas revela o verdadeiro objectivo desses grupos obscuros que dominam os povos, comprando barato as suas infra-estruturas básicas: esta depredação passa pela desmotivação/desmoralização dos profissionais mais relevantes, e pela apresentação de pseudo-soluções para os aflitos (doentes e médicos) que é saltar-lhes para o regaço!
Será que este povo (onde os médicos estão incluidos) terá ânimo e discernimento para reagir?
E reagirá da forma “certa”?
Ou numa corrida patética de destruição do pouco que lhes resta?
A ver vamos.
Com todo o respeito pela sua opinião/artigo, não posso deixar de comentar que é precisamente a defesa do fim do SNS e o favorecimento aos Hospitais Privados que nos levaram a esta triste miséria humana. Nada contra o trabalho, os serviços, os profissionais dos HP em si, mas numa visão abrangente sabemos que têm um enorme contra, não são para todos. Eu diria até, num tom mais mordaz que os HP agradecem esta reportagem. Entre um cenário de guerra e um hotel…! Todos os avanços conseguidos com a implementação do SNS vão por água abaixo não tarda nada voltaremos ao passado onde uns “merecem” ser atendidos e outros não.
Reply“Penso nos outros, logo existo”.
Cara Joana Vale, um HP também tem de visar o lucro, como qualquer empresa, e o SNS deve visar sempre as pessoas. Não é por eu ser empresário que não sei distinguir esta realidade. Sempre defendi e defendo o SNS, não é de hoje. Da mesma forma que acredito num país livre, em que existe a opção “escolha”. Concordo consigo quando diz que os HP agradecem esta reportagem, mas não meta todos os HP no mesmo saco. Há diferenças… (AT)
ReplyNum país onde a assistência médica é um Direito Constitucional que nos assiste, o que se passa pelos hospitais portugueses é uma autentica vergonha: filas de espera de horas, cirurgias adiadas, faltas de assistências médicas, etc.
ReplyEu posso falar pelo Hospital da Guarda, onde fui pessimamente atendida por 2 vezes. Não volto lá.
De um governo deste tipo, só se podia esperar isto…O fim do SNS, uma das vitórias do 25 de abril, mais concretamente do nosso querido Dr Arnault. Ele disse que se o PSD ganhasse as eleições, exterminaria o SNS, e disse-o em Coimbra, eu estive lá!
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