Ser mãe é uma realidade perpétua e exige um reajustamento de personalidade…

A gravidez é um momento em que os acontecimentos físicos estão em íntima relação com os acontecimentos psicológicos, concorrendo para a inevitável mudança. Embora sendo um momento esperado do desenvolvimento, a gravidez provoca um enfraquecimento temporário das capacidades internas da mulher, que não consegue usar os seus métodos habituais de resolução de problemas e vê os seus mecanismos adaptativos postos à prova.

O que muda então na mulher após o nascimento de um filho?

– A organização mental da mulher vai contar com novas características que jamais desaparecerão. Sempre que o filho precisa dela, a mulher reage como mãe, não importa a idade que o filho tenha. A organização mental da maternidade é agora uma nova parte do psiquismo da mulher, a qual é usada, primeiro intensamente e depois só em determinadas ocasiões. A maternidade não é então delimitada no tempo, é uma realidade perpétua e quem é mãe nunca mais vai ser capaz de estar delimitada em si própria.

– A organização psíquica da maternidade cresce, lentamente, com o desenvolvimento de um conjunto de sentimentos e comportamentos adaptativos ao nascimento de um filho, e este processo avança por fases: primeiro, a mulher tem de se preparar mentalmente para a mudança; depois, tem de fazer um trabalho elaborativo que vai produzir os novos aspetos da sua personalidade; por último, tem de integrar estas mudanças no resto da sua vida.

– O momento de fragilidade gerado com a gravidez não termina com o parto nem após o parto e continuam a ocorrer mudanças muito importantes. Assim, o pós parto deve considerar-se parte do momento de transformação, pois implica novas mudanças fisiológicas e psicológicas, e a consolidação da relação mãe-bebé e de grandes modificações na rotina e no relacionamento familiar, que começam a acontecer no início da gravidez.

Todas estas mudanças afetam a mulher, intimamente e na sua relação com os outros, sobretudo com os outros elementos da família nuclear, obrigando a que haja redefinição de papéis na história da família, pelo que não devemos nunca desvalorizar o pai (e os outros filhos, quando já existem), quando falamos da gravidez do ponto de vista psicológico.

Relativamente à experiência íntima da gravidez e da maternidade, essa é, como o próprio nome indica, parte de um mundo privado, que só a mulher conhece, implicando mudanças tão profundas que ela própria tem dificuldade em explicar e expõe a mulher a uma realidade interior e de exigência externa em nada semelhante a qualquer outra experiência da vida adulta.

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