A precisão da assistência robótica, aliada à experiência do cirurgião, permite chegar a resultados otimizados. Para o doente, sair da cama e conseguir caminhar no próprio dia da cirurgia é a demonstração da eficácia técnica

Se é um dos milhões de pessoas que sofrem de dores no joelho ou na anca devido a artrose, deverá ter começado a pensar quais serão as opções. Numa fase inicial poderá tentar tratamentos como ortóteses e medicamentos ou infiltrações articulares. Eventualmente terminará todas as opções com a necessidade de uma cirurgia para substituição da articulação, aquilo que se denomina por artroplastia.

Chegada a esta fase ainda terá de fazer a opção entre uma intervenção tradicional ou fazer uma cirurgia com assistência robótica. Quando se fala em realizar uma cirurgia através da utilização de um robô, pode parecer uma imagem futurista, mas esta é uma realidade atual em várias especialidades médicas, sendo o robô um aliado que permite obter melhores resultados.

Na ortopedia, o aparecimento da cirurgia robótica constitui hoje uma revolução na prótese do joelho e anca em termos de precisão, recuperação precoce e resultados a longo prazo. A intervenção é baseada na anatomia única de cada pessoa e em dados profundamente detalhados para criar o melhor plano possível.

O processo começa com a realização de uma TAC que recolhe centenas de imagens, que irão ajudar a criar um modelo anatómico tridimensional (3D) da articulação afetada (joelho ou anca), permitindo ao cirurgião “ver coisas” que não são possíveis com os exames habituais.

O modelo 3D é inserido no sistema robótico que cria um plano pré operatório, personalizado e único para cada pessoa. Esse plano é analisado pelo cirurgião ortopedista, que pode alterar e decidir procedimentos, até ter a certeza de que é perfeito para aquele membro e anatomia. Durante a intervenção, o cirurgião regista a anatomia real e a amplitude de movimento da articulação, comparando com o modelo 3D, garantindo assim que o procedimento é executado corretamente.

Na prótese do joelho e da anca é substituída toda ou parte da articulação. Esta cirurgia é feita removendo a cartilagem e o osso afetados, substituindo-os por um implante que vai restaurar o movimento e a função da articulação. Com esta nova tecnologia, o cirurgião terá de guiar e articular o braço robótico para remover o osso e a cartilagem doentes, garantindo-se uma execução perfeita, mais limpa e com grande precisão (inferior a 1 mm), o que permite manter os tecidos e o osso saudáveis. Simultaneamente e graças à precisão robótica, o risco de lesar estruturas importantes é muito menor.

Tecnicamente, o robô ajuda o cirurgião a antever os próximos passos cirúrgicos, mas também as consequências de todos esses gestos. Quando o cirurgião conclui que o movimento que o implante proporciona é o esperado e o correto, a cirurgia termina e o doente entra em processo de recuperação.

Na prática, esta precisão da assistência robótica conjuga-se com a experiência individual do cirurgião na substituição da prótese da anca e joelho, permitindo uma maior preservação do tecido ósseo, menos lesão de tecidos moles, menos sangramento e uma importante redução da dor pós-operatória. O doente recupera melhor e sente-se funcionalmente capaz de uma forma mais rápida. Isto vai fazer com que possa ter alta e consiga retomar a sua atividade normal, profissional ou não profissional, mais cedo.

Durante todo o processo poder-se-á pensar que o braço robótico acoplado ao sistema robotizado poderá funcionar sozinho. Ora, embora a cirurgia robótica seja um grande avanço, o braço robótico não substitui o médico-cirurgião. As cirurgias são feitas por um cirurgião ortopedista treinado para este tipo de tecnologia e é este médico especialista que decide e faz a maior parte do trabalho, inclusive é ele que tem de guiar o braço robótico, para atingir o objetivo final. O robô é uma ferramenta, não é um cirurgião.

É ainda comum questionar se a cirurgia robótica é ou não mais cara que a cirurgia tradicional? Embora, inicialmente, possa representar um custo maior, porque exige uma TAC, que o subsistema de saúde do doente pode comparticipar ou não, conclui-se que, no final e tendo em conta todos os fatores, o custo é menor. De fato e, geralmente, os resultados são melhores, o tempo de internamento hospitalar é mais curto, a readmissão é menos provável e os cuidados de acompanhamento –como a necessidade e tempo de fisioterapia– também são menores.

Dependendo da situação clínica individual, será possível sair da cama e caminhar, com ajuda, logo no próprio dia da cirurgia e, a grande maioria das pessoas intervencionadas, já consegue andar sem qualquer ajuda, logo na segunda ou terceira semana após a cirurgia.

Francisco Agostinho
(Médico, Ortopedista)

Detalhes:

  • Precisão milimétrica: Os robôs garantem uma execução mais precisa dos procedimentos, minimizando erros e otimizando os resultados;
  • Mais segurança: Menos erros e menos riscos de lesões iatrogénicas durante a cirurgia;
  • Menor invasão: Reduz o trauma ao paciente e proporciona uma recuperação mais rápida;
  • Menor dor e sangramento: A técnica robótica causa menos dor e sangramento durante a cirurgia, tornando a experiência mais confortável para o paciente;
  • Mais e melhor informação: A análise 3D das articulações, individualmente e de todo o membro, proporcionada pela TAC, permite ao cirurgião um melhor planeamento; o conjunto de informações fornecidas pelos sensores informáticos permite uma análise científica e decisão racional durante o procedimento, aumentando a segurança; 
  • Recuperação mais rápida: O menor trauma e a menor dor proporcionam uma recuperação mais rápida e um retorno mais fácil às atividades quotidianas.-

E outras…

  • O robô pesa mais de 500 kg, um peso que garante a sua imobilidade durante a utilização;
  • Em média, são adquiridas 500 a 700 imagens para o planeamento da cirurgia;
  • A serra robótica tem um limitador de alcance que impede a lesão iatrogénica de estruturas vasculares e nervosas;
  • Durante a cirurgia são adquiridos cerca de 100 pontos espaciais para confirmação da anatomia do doente;
  • Na Austrália, 1/3 das cirurgias artroplásticas do joelho (colocação de prótese do joelho) já são realizadas com assistência robótica.
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