Chama-se Síndrome do Intestino Irritável e resulta de uma hipersensibilidade aos estímulos. A causa ainda é desconhecida, mas não devemos descurar o poder do chamado cérebro intestinal se conectar diretamente com o cérebro e vice-versa. A síndrome afeta 10% da população mundial e, destes, 70% são mulheres
Chama-se Síndrome do Intestino Irritável (SII), é uma perturbação funcional do aparelho digestivo que se manifesta por dor ou mal-estar abdominal e alterações dos hábitos
intestinais (obstipação ou diarreia e, por vezes, com alternância destas situações). Não há nenhum exame ou análise que comprove a existência da patologia, mas a dor justifica que se investigue e alivie os sintomas. O prognóstico é bom.
A dor abdominal/sensação de mal-estar abdominal /sensação de “barriga inchada“, que se manifesta de modo frequente, com alternâncias de períodos de bem-estar é o quadro habitual com que o doente se apresenta ao médico. A dor pode manifestar-se em qualquer zona do abdómen, mas a sua localização é mais frequente nos quadrantes inferiores e, habitualmente, alivia com a emissão de gazes ou fezes. Quando há obstipação (prisão de ventre), as fezes são habitualmente mais duras e o doente tem menos do que duas dejeções por semana. Dizemos que há diarreia quando tem mais do que três dejeções por dia, fezes líquidas ou pastosas, A síndrome do intestino irritável afeta cerca de 10% da população mundial e, destes, 70% são mulheres. A patologia pode ocorrer em qualquer idade, mesmo em crianças e, habitualmente, o diagnóstico é feito alguns anos depois do início dos sintomas, podendo ser frequentemente associada com outras patologias funcionais do aparelho digestivo – refluxo gastro esofágico (azia); dispepsia funcional (enfartamento gástrico) e doenças extra digestivas (ansiedade, depressão, stress e fibromialgia).
Não há nenhum exame ou análise que possa demonstrar ao gastroenterologista que estamos face a um SII e por isso o diagnóstico é feito pelos sintomas que o doente refere e pela observação que o clínico faz. Se existir algum sinal que levante algumas suspeitas, como dor abdominal noturna, doença inflamatória intestinal, emagrecimento, perda de sangue nas fezes, anemia, história familiar de cancro colo retal ou início dos sintomas depois dos 50 anos, é recomendado fazer exames de diagnóstico, entre os quais exames endoscópicos (colonoscopia e, eventualmente, endoscopia do estômago).
Ligação direta ao cérebro
Quais as causas? Verdadeiramente, não conhecemos a causa da SII. Sabemos que, quando o doente tem sintomas, há alterações na motilidade (movimentos) intestinal e gástrica após as refeições e nos momentos de stress. Alguns estudos mostram que os pacientes com síndrome do intestino irritável sentem dor com pequenos estímulos no intestino, o que não acontece com quem não tem SII. Podemos concluir que o intestino (e não só) é hipersensível aos estímulos.
Acrescente-se ainda que o intestino tem uma enervação abundante e complexa (também chamado cérebro intestinal), com conexão direta ao cérebro e que origina uma troca uma informação imediata do cérebro (eixo cérebro-intestinal) nas situações de ansiedade, depressão, fobias, stress e, ao contrário, o intestino também envia informações ao cérebro.
Algumas alterações da microbiota intestinal são também uma hipótese possível para a causa, mas ainda sem confirmação absoluta, tal como os fatores genéticos que, por vezes, podem ser evidentes.
Bom prognóstico
Mesmo sem a existência de uma lesão orgânica, a SII é considerada uma patologia crónica, mas de bom prognóstico, com épocas de relativo bem-estar, mas que perturba (por vezes muito) a qualidade de vida das pessoas. Como não existe cura definitiva, o objetivo passa por aliviar o mais possível os sintomas. É necessário explicar e esclarecer que esta é uma situação benigna e o tratamento é puramente sintomático e inclui anti espasmódicos, laxantes, anti diarreicos, ansiolíticos e antidepressivos, conforme o momento do quadro clínico. Os probióticos são ainda um assunto em avaliação científica, mas podem ter uma utilidade em alguns casos. Grande parte dos doentes refere que alguns alimentos (nem sempre os mesmos) lhes agravam os sintomas, mas não está demonstrado que a sua exclusão seja importante. Para esta síndrome específica, o despiste de alergias alimentares também não se tem mostrado útil.
Então o regime alimentar não tem importância nenhuma no tratamento da síndrome do intestino irritável? A relação médico-doente é sempre importante, mas nestas situações essa relação tem que ser maximizada, já que na origem desta doença estará uma correlação de forças entre a mente (cérebro) e o “cérebro intestinal”.
Resumindo, o regime alimentar, e não só, tem que ser gerido com muita explicação e partilha de informação. O doente vai querer saber o que “ pode comer”, ao invés de pensar que “tudo lhe faz mal”. Por mais que a medicina avance continua a ser verdade que ”não há doenças, há doentes”.
Hermano Gouveia
(Médico, Gastroenterologista)
Há mais de 150 espécies a morar no intestino
Não há fauna, nem flora intestinal, há microbiota intestinal. Ou seja, milhões de microrganismos, como fungos, vírus e bactérias, um ecossistema numeroso e diversificado, que inclui mais de 150 espécies diferentes e que mora dentro do nosso intestino. Cada indivíduo tem uma microbiota intestinal única e exclusiva. A colonização e desenvolvimento começa ainda na gravidez e o tipo de parto e a alimentação do bebé são a primeira influência para a sua composição. E, se a genética conta, aquilo que fazemos durante a vida conta ainda mais. Neste caso específico, o estilo de vida, a alimentação e a toma ou não de medicação são determinantes para a composição e funcionamento da microbiota intestinal.
Fica assim claro que aquilo que comemos acaba por servir de alimento a todos estes microrganismos, que são únicos e muito “personalizados” desde a conceção do ser humano. Tal como os outros microrganismos que temos na pele, vagina, nariz, na boca e garganta, a microbiota intestinal também existe para nos proteger.
São inúmeras as suas funções e, se por um lado são importantes e essenciais na digestão dos alimentos, também influenciam o nosso comportamento e humor, além do importante papel na defesa de microrganismos que nos possam ser prejudiciais. Uma alimentação diversificada é sempre a melhor opção. Depois, um bom sono e a atividade física ajudam a equilibrar todo este ecossistema. Os antibióticos, o stress, os alimentos processados e o excesso de açúcar e de carne vermelha são os ingredientes a evitar, porque promovem o desequilíbrio, ou seja, a disbiose que ninguém quer.
Gostava de saber que alimentação fazer pois tenho muitas dores nos intestinos e a maior parte das vezes não sei o que comer.
ReplyBem haja pela atenção.
Bom dia, sugerimos que marque uma consulta de avaliação.Fique bem.
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