Não é um destino fatal, nem uma consequência inevitável. Um estudo publicado na revista The Lancet concluiu que metade dos casos de demência pode ser prevenida. Fica assim provado que é possível controlar os fatores de risco. São 14!

O número de pessoas com demência em todo o mundo é assustador e as previsões apontam para que continue progressivamente crescente. Em Portugal 200 mil pessoas sofrem de demência, número que subirá para os 322 mil, até 2037 (dados da Alzheimer Europa 2019). Olhamos para esta realidade como uma fatalidade, por se considerar a demência como uma consequência inevitável do processo de envelhecimento, com componente genético, portanto este será o preço do aumento da longevidade. Não é exatamente verdade!

Nos finais de julho 2024, foi publicado pela revista The Lancet o resultado da investigação da ‘Comissão para a Demência’ criada por esta prestigiada revista científica, que reúne especialistas internacionais, de diversas áreas, centrados no estudo da demência. O estudo – profundamente revolucionário – tem sido amplamente divulgado por toda a imprensa popular internacional, fazendo eco das conclusões apresentadas. E sim, as conclusões invertem o tal “destino fatal”.

Conclui-se que cerca de metade dos casos de demência pode ser prevenida!

Este estudo vem comprovar que se conseguirmos controlar os fatores de risco, mesmo independentemente do risco genético, cerca de 50% dos casos de demência em todo o mundo podem ser prevenidos ou o seu aparecimento retardado! E sim – nunca é demasiado tarde para intervir, em todas as fases da vida devemos atuar na prevenção. Por isso, é fundamental mudar o paradigma e agir sobre o que se chamam os fatores de risco, neste momento são 14 – perfeitamente identificados e que podem ser perfeitamente controlados.

Alguns destes fatores são os mesmos que favorecem a diabetes, as doenças cardiovasculares e até mesmo alguns tipos de cancro. São sobejamente conhecidos, mas não tem havido vontade suficiente para implementar medidas que os alterem.

A Comissão identificou 14 fatores modificáveis, dois a mais dos listados no relatório de 2020, sendo eles: Baixo nível educacional na infância – Hipertensão – Consumo excessivo de álcool – Obesidade- Tabagismo- Depressão- Sedentarismo- Isolamento social- Perda auditiva – Diabetes – Poluição do ar- Traumatismo craniano. A estes, acrescentou-se agora o Deficit visual não tratado e o Colesterol LDL elevado.

A relevância deste estudo evidencia a necessidade de uma maior apoio às políticas de Saúde Pública, enfatizando as estratégias de prevenção. No entanto, o mais difícil será conseguir mudanças de comportamentos, conseguir alterar comportamentos arraigados (alimentares, sociais) e substituí-los por outros que tragam mais saúde.

Na natureza humana, mudar comportamentos é um desafio complexo. Exige um envolvimento coletivo, que passa pela educação e tomada de consciência da existência de algo a alterar. Exige também a mudança da envolvência e a criação de ambientes que favoreçam a mudança. Para mudar é necessário uma grande motivação e, sobretudo, ter estratégias que sustentem essa motivação. Para além disso, a eficácia da alteração de comportamento exige mecanismos de avaliação, mecanismos que valorizem e recompensem as ‘boas práticas’ .

A implementação dessas recomendações que controlariam os fatores de risco modificáveis, não só conseguiria melhorar a saúde global, como reduziria os custos sociais e económicos associados à demência.

Cristina Januário
(Médica, Neurologista)

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