(Foto de Ueslei Marcelino)

O ideal de beleza incutido pelas culturas romana e grega podem ser responsáveis, mas não têm a culpa toda. Afinal, evoluímos… mas só nalgumas coisas. Há assuntos que teimam em manter-se quase iguais. A deficiência do outro é uma delas.

Ainda nos custa perceber que um deficiente pode ser eficiente. Ainda nos causa perplexidade dar de caras com uma pessoa deficiente. Ainda ficamos desconcertados com os desafios que essa mesma pessoa supera e não deixamos de questionar “como é que ele consegue?”. Como é que um cego pode ser repórter fotográfico, marcar golos ou correr uma maratona? Ou como é que um deficiente pode ser feliz?

Os jogos Paraolímpicos provocaram-nos essa miscelânea de sentimentos e até houve quem dissesse o que nunca deveria ter sido pensado. É verdade, para que possa ser elogiado pela sociedade, o deficiente tem de ser o melhor em tudo o que faz, só assim será valorizado. Porquê? Para parecer que não tem deficiência?

Admitimos facilmente que quem nasce deficiente, nasce com o “pacote” todo e, além de precisar de uma cadeira de rodas para andar, também deve nascer deficiente no empenho ou na motivação…

Quando é que vamos conseguir olhar para lá da embalagem?

António Travassos

(médico oftalmologista)

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