Sempre gostei deles. Tinha as minhas preferências, claro. Avistei o “homem bala” e admirava a “senhora dos cabelos de aço”, a mesma que vinha servir pipocas durante o intervalo. Nenhum conquistou o lugar dos palhaços, em concreto o do palhaço rico e do palhaço pobre.

O palhaço rico foi sempre rezingão e nunca encantou pelas lantejoulas, percebia-se que o brilho não era dele, era emprestado. Por muitos galões que exibisse ou por muito bem que falasse, ninguém acreditava nele, não se confiava no personagem. A simpatia ia sempre para o palhaço pobre, de calças largas e sapatos grandes e rotos, era neste que todos acreditavam, era ele que melhor comunicava e, por isso, nos fazia rir. Mais esperto e inteligente. 

Fora do circo ainda continua a ser assim. Por vezes, esbarro numa parelha de palhaços. Estranhamente, o palhaço rico ainda sobrevive e, às vezes, confunde-se com o “xico esperto”. Tem uma sina, não pode nem deve rir. Já não usa tantas lantejoulas, mas ainda brilha e continua a acreditar que é muito esperto. Alguns colecionam galardões, diplomas, prémios…, ofertas que recolhem sem perceberem que não lhe são dirigidas, nem merecidas, são oferecidas…

O palhaço pobre continua mais esperto, um pouco mais pobre é certo, mas sempre que deteto um, ainda me faz rir. Dá valor a tudo, pode rir com à vontade, sabe o que quer e para onde deve ir, aprendeu a conquistar tudo o que tem, nunca ninguém lhe deu nada, nem mesmo um diploma, uma medalha ou uma distinção. Os lugares que teve foram merecidamente conquistados. Gosta da verdade, é puro, honesto, único. Vou gostar sempre deste palhaço pobre.

António Travassos (2012)

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