A especialidade foi crescendo, na mesma proporção em que a medicina se subespecializou.

A visão humanista da medicina foi recuperada com esta especialidade que centra a medicina na pessoa. Promover a saúde e prevenir a doença são a sua missão

Fazer um diagnóstico por conta própria, nem sempre é o mais correto. Hoje, o médico de clínica geral tem a capacidade de ter uma visão mais global e ampla, aplicando a sua formação especializada em promover a saúde, prevenindo a doença.

O caminho para aqui se chegar começou a ser traçado pelas transformações económicas e sociais ocorridas no século XX, particularmente após a II Guerra Mundial, que alteraram de uma forma muito significativa as sociedades “ocidentais”. No que respeita à área da saúde, estas sociedades passaram a considerar fundamental o direito universal aos cuidados de saúde e a equidade de acesso aos serviços que os prestavam.

A assistência médica centralizou-se em hospitais com corpos clínicos especializados e equipados com aparelhagem sofisticada. Multiplicaram-se as especialidades e as subespecialidades que, associadas e em relação com a evolução tecnológica, permitiram uma melhoria progressiva e muito significativa dos indicadores de saúde.

O aumento progressivo da esperança de vida subsequente condicionou um envelhecimento da população, com aumento da persistência de doenças crónicas. As alterações demográficas, bem como a alteração do estilo de vida e, também, dos padrões familiares, das relações sociais e profissionais, criaram novas necessidades na assistência às populações.

Com o modelo adotado, centrado na doença, foi-se perdendo uma visão mais humanista da medicina. Ainda mais, este modelo, associado à utilização de meios auxiliares cada vez mais sofisticados, levou ao aumento dos custos com a saúde. Como resposta a estas alterações fez-se sentir a necessidade de alterar o paradigma dos serviços de saúde. Foi proposta a mudança da prática da medicina centrada na doença para a medicina centrada na pessoa considerando o ser humano enquanto um todo e integrado num conjunto mais amplo (social, económico, familiar, comunidade, etc.) e não como um simples somatório de diversos tecidos e órgãos.

A Declaração da Conferência de Alma-Ata (Casaquistão, URSS, 1978) e a Carta de Ottawa (Canadá, 1986) são marcos históricos desta nova visão. Hoje, a Clínica Geral/Medicina Familiar pretende, numa perspetiva biopsicossocial, ser a resposta necessária à abordagem do indivíduo e da família, integrados na comunidade, numa relação de proximidade e durante todo o seu percurso de vida. A sua visão é sistémica, multifatorial e integradora. O seu objetivo não é ser uma mera triagem para as diversas especialidades mas, antes, prevenir a doença e promover a saúde, diagnosticar e tratar precocemente.

Paulo Queiroz (médico, clínica geral)

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