Quando fecho voluntariamente os olhos vejo o que quero. Quando os abro vejo o que quero e o que não quero. Mas vejo.
Quando tenho os olhos fechados e só vejo o que quero, revivo, organizo e desorganizo as imagens que vivi em algum momento, as que sonhei, as que imaginei e as que queria que outros também vissem.
Abro os olhos e não vejo ninguém. É de noite… com os olhos abertos ou fechados, enxergo pensamentos, construo os meus castelos e os dos outros… Interrogo-me sobre a minha miopia e a dos outros.
Sinto-me um empresário de dúvidas, um proprietário de incertezas ou o escravo de uma certeza…, a opção. Sim, porque o meu querer é construído sobre incertezas, dúvidas e hesitações.
Uma opção é uma escolha, não raras vezes repleta de incertezas, de quereres e de dúvidas… Luto por ver através das transparências, das turvações e de todas as opacidades do mundo. Procuro essa luz que foge.
Observo o brilho dos princípios e os borrões de muitos fins. Fecho os olhos e só vejo os princípios em que acredito, abro os olhos e vejo a sociedade a fazer a justiça que a previdência rejeitaria, vejo manifestações de raiva onde queria ver projetos construídos por mãos calejadas de amor.
Se conseguisse dormir com os olhos abertos sonharia com mais luz, sonharia melhor, teria outra visão para os meus sonhos.
Mas é de noite… Não há luz, nem se veem os olhos que querem ver. Só se vê o nada.
António Travassos
(Médico, Oftalmologista)
Deixar um Comentário
Há imenso tempo que sigo de longe o profissionalismo e a humanidade deste senhor… não o conheço pessoalmente, mas só pelo texto que ainda tive a oportunidade de ler agora, gostava imenso de o conhecer…neste momento ainda o consigo ver, certamente daqui por uns tempos, só conseguirei lembrar me de si de olhos fechados….
ReplyE, por vezes, só se vê o nada.
ReplyBem-haja por partilhar os seus belíssimos textos.
impressionante…..adorei!!!!!!!
Reply