São rosas Senhor… São rosas… O perfume dessas rosas era sagrado, milagre para os outros, ajuda para quem necessitava, estímulo para uma sociedade medieval pobre e entristecida. 

Hoje, as rosas são outras, são de múltiplas cores, exalam diferentes perfumes e são comercializadas sem amor. Oferecidas sem paixão, murcham mais cedo, perdem as pétalas, secam os espinhos e esquecem a relação entre quem as oferece e quem as recebe. Na sociedade atual até os cravos vermelhos perdem a fragrância original… Não resistem aos manjericos e manjericões… Ao alho-porro e às injustiças do São João.

O Santo António abandonou a cidade há muitos anos, transferiu-se. Santa Clara está do lado do Japão e a Cabra desafinou… A porta férrea enferrujou e a luz que deveria iluminar a nossa inteligência é uma lâmpada fundida pelas variações de tensão das diferentes fontes de energias.

Coimbra perdeu o seu encanto, na hora da chegada e no momento da despedida. A Rainha continua a vir de dois em dois anos à cidade, atravessa a ponte, vai à Sofia, mas não procura o Hospital dos Lázaros. Regressa a “casa”, ignorando a Alta, não repara no ranking da Universidade, nem no D. Dinis, que continua de costas voltadas para a Escola que fundou. Não é mais o grande poeta e já não recorda a Isabel de Aragão…Alguém sussurra brincando que está com Alzheimer!

A invasão francesa está quase a chegar, não há castelo, há uns escassos arráteis de pólvora e ninguém sabe fazer os cartuchos… O conselho de veteranos intervém e decide enviar uma embaixada para confraternizar com o exército invasor na Figueira. Os copos e as razões que a razão desconhece livram esta cidade da invasão… Muitos professores ficaram calados, tal como em 69, 74 … e 75…

As rosas e os cravos hoje são outros, Coimbra não é a mesma, mas a Cabra está viva e os sinos têm de tocar a rebate para que a Alta acorde e as rosas murchas se transformem na ciência, no desenvolvimento, nas moedas do regaço da Rainha, no que a Universidade deve à Cidade…

Voltem a estátua do D. Diniz para a Porta Férrea e ressuscitem o Marquês de Pombal… Os futricas agradecem. Longa vida a Coimbra.

António Travassos
(médico oftalmologista)

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