O lacrimejo faz parte da vida. É tão natural como um sorriso. Mas, se muitas vezes é demonstrativo do estado da alma de cada um de nós, noutros momentos pode transformar-se em algo desagradável, por ser constante e socialmente desadequado.

O lacrimejo pode ter origem irritativa, como um reflexo a alguma agressão à superfície ocular, seja um corpo estranho, uma pestana, uma erosão corneana e até a própria síndrome de olho seco. Muitas vezes, pode inclusive estar relacionado com anomalias das pálpebras.

Um lacrimejo constante pode também ser obstrutivo e muitas vezes associa a acumulação de secreções desagradáveis e a possibilidade de infeções do saco lacrimal – dacriocistites. Nestes casos a solução é cirúrgica.

Existem múltiplas opções. Em casos congénitos e para as crianças a solução pode passar pela sondagem da via lacrimal, à qual se associa, ocasionalmente, a intubação prolongada da via lacrimal, dependendo da idade da criança e da complexidade do caso. A dacrioplastia com balão, em que uma sonda lacrimal com um balão insuflável percorre a via lacrimal e a dilata quando o balão é insuflado, é também uma opção em crianças mais velhas ou em adultos com obstruções parciais da via lacrimonasal.

Nos adultos com obstruções completas ou infeções do saco lacrimal é necessário criar uma nova via de drenagem – um bypass – da lágrima para que esta possa seguir o seu caminho para a fossa nasal.

Esta cirurgia designa-se por DCR – dacriocistorrinostomia -, e pode ser realizada por via externa ou endonasal, dependendo do nível de obstrução e das condições de cada doente em particular. O avanço tecnológico da endoscopia nasal e a melhoria dos instrumentos cirúrgicos têm-nos permitido optar por técnicas endonasais eficazes, bem toleradas e sem a cicatriz associada às técnicas externas, ainda que esta seja pequena e a larga maioria das vezes muito bem disfarçada. O sucesso da cirurgia pode ainda ser potenciado com a aplicação de anti-fibróticos durante a intervenção.

E assim o lacrimejo e o choro podem voltar a surgir apenas quando a alma os chamar…

Rui Tavares

(médico oftalmologista)

Deixar um Comentário