Os pais não o conhecem bem, ao contrário dos pediatras que o temem, porque sabem que enche as urgências e os internamentos em pediatria entre outubro e março. Os recém-nascidos e as crianças até aos 2 anos de idade são os mais afetados. Chegou a prevenção
Chama-se Vírus Sincicial Respiratório (VSR), afeta mais de 90% das crianças até aos 2 anos de idade e é quase um desconhecido para os pais e mães. Afeta todas as crianças, sendo especialmente vulneráveis as mais jovens e aquelas com fatores de risco.
A época epidémica chega habitualmente em outubro e costuma ficar até março ou mais. Um período que os pediatras definem como bastante crítico.
Os serviços de Urgência enchem e o internamento em pediatria fica repleto de recém-nascidos e bebés que contraíram o VSR. Dar soro, oxigénio e esperar têm sido as soluções para o “tratamento”. Estamos a falar de um vírus que tem sido responsável, durante a época do inverno, pela maioria dos internamentos em pediatria, sem que exista qualquer arma terapêutica.
Isso era antes, porque a próxima época epidémica pode agora ser protegida, seguindo dois momentos e com duas soluções que se revelaram muito eficazes. O primeiro momento de proteção pode acontecer ainda antes do nascimento da criança.
A primeira opção passa por imunizar a mãe, no sentido de proteger o futuro recém-nascido logo a partir do nascimento, com uma vacina com toma recomendada entre as 24 e as 36 semanas. A Sociedade Portuguesa de Obstetrícia e Medicina Materno-Fetal já está a fazer esta recomendação. A vacina, única no mundo com indicação simultânea na grávida e no idoso – Abrysvo- foi estudada em múltiplos ensaios clínicos em mulheres grávidas, em vários países do mundo e revelou-se segura e eficaz. A vantagem será uma imunização precoce do recém-nascido.
Mas, após o parto, o recém-nascido e o lactente poderão ser também protegidos contra o VSR, não através de uma vacina mas sim pela administração de um anticorpo monoclonal que irá assegurar proteção nos primeiros meses de vida. A estratégia para a saúde – anunciada recentemente pelo atual governo – já incluirá a toma deste novo medicamento a todos os recém-nascidos, nascidos a partir de outubro de 2024.
Estudos recentemente publicados demonstraram a efetividade deste anticorpo – Nirsevimab – aplicado de forma universal a todos os recém-nascidos em Espanha, onde se registou uma diminuição de quase 80% nos internados por infeção a VSR.
Juntas, estas duas terapias, são seguramente muito eficazes na prevenção da forma grave do VSR, evitando-se assim a necessidade de internamento.
O VSR e, por comparação com outros vírus, como o influenza, é praticamente desconhecido dos pais. É certo que a gripe (influenza) também afeta as crianças mais pequenas, mas a carga de hospitalização é muito menor, se a compararmos com a do VSR.
Até ao segundo ano de vida, 90% das crianças irão ter um contato com o VSR e, se a maior parte terá uma doença ligeira ou moderada, uma franja terá doença suficiente grave para ir a um serviço de urgência, ou até mesmo para ser hospitalizada. O impacto real é grande e, se é possível fazer prevenção em crianças com fatores de risco, com a toma de medicação específica, também se constata que a grande maioria dos internamentos são de crianças que não se inserem nos grupos de risco. São crianças que nasceram saudáveis, de termo e sem risco identificável. Isto é, o verdadeiro grupo de risco são todas as crianças e esta é uma infeção universal.
Este vírus é altamente contagioso e admite-se que, até aos 4 anos de idade, todas as crianças já foram afetadas, pelo menos uma vez. O VSR costuma ser o responsável pelas bronquiolites e pneumonias em idade pediátrica. E se já quase todos ouvimos falar de bronquiolites e de pneumonias, poucos sabem que por detrás dessa situação está o VSR. Os pais de bebés muito prematuros, crianças com algumas cardiopatias ou problemas congénitos nos pulmões conhecem este vírus, porque algumas delas beneficiaram de tratamento profilático, mas constituem apenas uma minoria.
Uma única infeção por VSR acaba por não produzir imunidade completa e por isso as reinfeções podem acontecer, mas serão sempre menos graves e, sim este é um vírus que também circula entre os adultos, aliás, são eles e as crianças mais velhas que servem igualmente de veículos de transmissão, mas, nestes, com exceção do idoso que poderá ter doença grave, os efeitos são bem menores (à custa de sucessivas reinfeções).
A transmissão faz-se de pessoa para pessoa, por contato direto com as secreções respiratórias. Evitar o contato com pessoas infetadas, evitar locais com muitas pessoas, lavar bem as mãos e os objetos, como brinquedos, são as recomendações mais eficazes.
A Organização Mundial da Saúde estima que, anualmente, registam-se 33 milhões de infeções das vias aéreas inferiores, causadas pelo VSR e em crianças com menos de 5 anos de idade. Destas 3,3 milhões precisam de internamento e 66 mil acaba por perder a vida por complicações. Chegou o momento de mudarmos cenários e destinos.
Gustavo Januário
(Médico, Pediatra)
São muito importantes estes comentários de especialistas porque a maioria dos portugueses não tem conhecimentos destas inovações clínicas!
ReplyBom dia,
ReplyO meu filho tem 34 meses, não tendo fatores de risco, não tem critério para esta vacina.
No entanto, há alguma forma de o poder vacinar?
Cumprimentos
O Dr. Gustavo Januário esclarece que, neste momento, o anticorpo monoclonal, que vai ser administrado gratuitamente aos recém nascidos a partir de outubro e a alguns grupos selecionados, não está disponível no mercado privado, portanto – neste caso particular – não poderá ser administrado. Cumprimentos.
ReplyBoa tarde, vacinei-me ainda grávida contra o vsr antes três semanas do bebé nascer para quando ele nascesse, estar protegido. Contudo, li que a proteção é de apenas até seis meses. Posto isto, o meu bebé passados esses seis meses, poderá levar o anticorpo monoclonal apesar de eu ter sido vacinada grávida? Ou a vacina na grávida já impede que o bebé receba depois de nascer? Grata
ReplyA proteção da vacina estende-se para lá dos 6 meses com os estudos mais recentes a mostrarem alguma proteção até aos 12 meses. A vacina da grávida e a administração de anticorpos não são incompatíveis. Os critérios de elegibilidade para administração do anticorpo são ter nascido a partir agosto de 2024 e portanto se nasceu antes destas data não será elegível. A administração no caso de ser elegível, será efetuada , segundo as normas de recomendação da DGS, a partir de outubro 2024. Cumprimentos, Gustavo Januário
ReplyBoa tarde,
ReplyEstou grávida de 29 semanas e o meu bebé nascera no fim de novembro. Sendo que, após o nascimento, o bebé vai tomar o anticorpo monoclonal, faz sentido eu tomar a vacina também? Se tomar, quando é que o bebé recebe o anticorpo? Obrigada. Elisabete
Boa tarde, Obrigado pela sua questão.
Se é previsto o bebé nascer em novembro, segundo a norma publicada, O recém-nascido fará o anticorpo monoclonal ainda na maternidade e portanto ficará protegido desde os primeiros dias de vida, tornando assim o benefício da vacinação materna muito ligeiro.
Para tudo correr bem será necessário , tal como anunciado pela própria direção geral de saúde que exista o anticorpo monoclonal nas maternidades e nos centros de saúde, o que não acontece na atualidade. Portanto no caso de prematuridade e na ausência de vacinação materna, o recém nascido nascerá sem proteção e só terá acesso ao anticorpo monoclonal quando este tiver disponível em Portugal.
Espero ter ajudado na sua decisão.
Cumprimentos
ReplyGustavo Januário