A Medicina é um projeto cúmplice com a vida, enquanto esta tem a força necessária para viver. A Medicina é uma amálgama das outras ciências, é filosofia pura, biologia, bioquímica, física, matemática, mecânica, é a ciência de todos os outros aplicada à saúde de cada um.
Um Médico necessita de todos os outros, mas cada um dos outros só necessita do Médico quando está doente. Este princípio é desagregador e terrível para a saúde em geral, para o bem social, para qualquer Serviço Nacional de Saúde… E para cada um em particular, particularmente, quando está doente…
Gulbenkian fez uma avença genial com o seu Médico… Só lhe pagava quando tinha saúde. Se todos nós pensássemos assim e nos fosse dada a oportunidade de celebrar contratos semelhantes, qualquer sistema de saúde teria que ser gerido segundo novas formas de filosofia de gestão, a sociedade seria mais igualitária para todos e para cada um.
A Medicina seria mais o que deveria ser, interessante, competente, normalizada, as guidelines, seriam decididas no verdadeiro interesse do doente, cada profissional de saúde correria atrás da cenoura, sem pensar no capital, no partido que serve – sem as contradições do lucro e do dever.
A Medicina atual atravessa uma bolha, idêntica à da Construção Civil ou da Banca… A população terá que envelhecer e adoecer para que as unidades de saúde instaladas sobrevivam, mesmo que para isso, cada um seja forçado a viver sem vida. O negócio liquidará a eutanásia… A morte estará condenada a não morrer para que a “medicina ” sobreviva…
Avante a Medicina que salva os doentes da morte… Até que robôs com inteligência emocional, menos sofisticada e alheios ao interesse do capital, nos deixem morrer.
Saramago estava certo… Ao ensaio sobre a cegueira, seguirá o ensaio sobre a morte… A ressurreição está aí.
(médico oftalmologista)
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Gostei
ReplyO revivalismos é um ato muitas vezes inconsciente, associado a filosofia, bem escrita, torna-nos muito mais "bonitos"
ReplyGostei da lucidez e coragem na abordagem do tema.
ReplyNão sei si o DR. Travassos e , ademáis de grande oftalmologista, filósofo, científico com certeça de sim, matemático, biólogo, ou tudo a vez!!!.
ReplyOs seus artigos, que leio com profundo interés pelo contenhido sempre e pela forma de escribir, deijam un fundo para meditar sobre a VIDA.
Este de hoje e fantástico, mais terrivel na minha modesta opinião. Pensar e viver muitas veces esto do negocio da medicina e as vez precisar tanto dela, não e uma cuestião menor.
Espero encontrar na vida muitos "Dr. Travassos", e menos intereses económicos na medicina que eu precise, a familia e os amigos.
Fico agradescida conhecer ao Dr Travassos pesoalmente e valorar a sua atençao e a sua medicina fora do estrictamente monetario, e absolutamente en honestidade com o seu paciente.
Um muito Feliz Ano para tudos os que tem a enorme sorte de trabalhar com esa filosofía!!!
Abraço amigo, Çao
Acho excelente o artigo escrito pelo Dr. António Travassos e que vai muito ao encontro da realidade que se vive!
ReplyUma profunda e continuada reflexão de um cientista – médico baseada na longa experiência de vida.
ReplyPara mim, estar vivo não é importante mas sim o como estar vivo, com todas as faculdades indispensáveis ‘a qualidade do viver.
Por isso, não faz, no meu entender, prolongar a vida se a mesma não puder ser vivida fora do tempo. Tempo que nos obriga a dominar o digital, a compreeder os novos valores socitais, a aceitar resignadamente a desigualdade e a indiferença social.
Quando já não conseguir a integração social, prefiro o ocaso definitivo que me livrará do pesadelo, mesmo que não exista um Paraíso que me acolha.
Uma maravilha de raciocínio. É um pouco duro ter que aceitar que o Sr doutor tem razão. Sinais dos tempos, diriam os mais idosos. Enfim, é a "vida" que temos para viver.
ReplyParabéns pelo artigo.