Não há fórmulas mágicas para os bebés dormirem e é certo que, sobretudo nas primeiras semanas, a mãe está completamente dependente do ritmo do sono e das mamadas do seu bebé. Há estratégias que podem atenuar esta fase da vida, mas as novas mamãs devem ter presente que todos os bebés choram, pelas mais variadas razões…

O nascimento de um bebé é fonte de grande alegria, mas muitas vezes esse estado de espírito é perturbado por sinais de cansaço e ansiedade, à medida que os dias vão passando. 

O sono da mãe pode começar a ficar alterado, tão cedo como no primeiro trimestre de gravidez – as variações hormonais emergentes podem condicionar menor tempo de sono, maior frequência de acordares noturnos e maior sonolência diurna. E esta perturbação do sono pode ser agravada durante o período pós-parto e primeiros meses de vida do bebé.

Quando os bebés nascem, o seu ciclo noite/dia não se encontra minimamente estabelecido, o que só vai acontecer ao longo dos primeiros 4 a 6 meses de vida. Por isso, as 14 a 17 horas que inicialmente dormem em cada dia, vão ser distribuídas num sono polifásico ao longo do dia, muitas vezes fragmentado a cada 2 horas ou até menos. Isto significa que a mãe tem que estar desperta e ocupar-se do bebé com essa periodicidade, especialmente se é amamentado ao peito. Em suma, sobretudo durante as primeiras semanas, a mãe fica completamente dependente do ritmo de sono e mamadas do seu bebé.

Esta fragmentação e irregularidade do padrão do sono (mesmo que sem diminuição do tempo total de sono), particularmente se já se iniciaram durante a gravidez, podem contribuir para fadiga, dificuldades cognitivas e alterações do humor significativas e até para a instalação gradual de um quadro depressivo na mãe. E a família em que a díade mãe-bebé está inserida acaba também por sofrer alguma repercussão, dependente da dinâmica familiar. 

A relação entre o sono e o tipo de aleitamento pode ser controversa. Alguns estudos sugerem que as mães que amamentam passam mais horas acordadas durante a noite – a digestão do leite materno é mais rápida do que a do leite adaptado e o bebé pode ficar com fome mais rapidamente e necessitar de ser amamentado com maior frequência. Por outro lado, a preparação de um biberon de leite é mais morosa do que simplesmente colocar o bebé ao peito, aumentando o nível de despertar da mãe e eventualmente o tempo de readormecimento após a mamada. Neste balanço há que ter em conta as indiscutíveis vantagens biológicas e sociais que o aleitamento materno tem para a criança e para a mãe.

O cansaço e sonolência da mãe podem levá-la a diminuir o seu estado de alerta ou a adormecer enquanto amamenta o bebé ou mesmo a deixá-lo dormir na sua cama, como estratégia para facilitar o acesso ao bebé na hora da mamada. Mas há que ser prudente porque esta situação está apontada como potenciadora do risco de morte súbita do lactente, segundo as recomendações da Academia Americana de Pediatria. 

Em modo Zombie

A disponibilidade física e mental para os outros filhos, no caso de os ter, fica reduzida. A arrumação da casa tem que ser protelada, o que pode causar ansiedade nalgumas mamãs. Não é raro que a mãe se sinta como uma zombie ao longo do dia e que não tenha disposição para atender chamadas, receber parabéns, ou ser simpática com os colegas ou com o chefe quando lhe telefonam …. “Se soubessem como estou pedrada!….”. Os tempos de reação ficam diminuídos, bem como a capacidade de executar tarefas que exijam concentração. A mãe pode sentir-se exausta, irritada e olheirenta, sem conseguir “desligar” por momentos de mamadas e de mudanças de fraldas, sem possibilidade de ter um lapso de tempo para si própria. Os encontros com as amigas, as idas ao ginásio ou ao cabeleireiro são substituídos por refeições ultrarrápidas e cuidados de higiene pessoais feitos num ápice. 

Mas, para além da mãe, o novo membro da família também pode afetar o sono do restante agregado familiar, nomeadamente do pai. Embora habitualmente este se ocupe menos dos cuidados ao bebé durante a noite, o seu sono também é afetado, podendo surgir consequências deste compromisso. E a fragmentação do sono, as alterações do humor e a fadiga também podem condicionar algumas brechas no relacionamento do casal.  

O cansaço dos pais pode facilitar a manutenção de interações que dificultam a capacidade do adormecimento autónomo do bebé, como por exemplo, passeá-lo ao colo ou dar-lhe mama até que adormeça e só depois colocá-lo no berço. Frequentemente e pouco depois de ser ali colocado, o bebé acorda a chorar e os pais pegam nele de novo, sendo necessário repetir todo o ritual de adormecimento. E isto pode repetir-se várias vezes ao longo da noite e do dia e perpetuar-se por semanas e meses. 

Estratégias

Não há fórmulas mágicas para os bebés dormirem bem e deixarem os pais descansar. O comportamento de cada bebé é único e a capacidade de aceitação / resistência dos pais é variável. Algumas estratégias preventivas poderão ajudar a atenuar os problemas de sono do bebé e da mãe, que habitualmente se ocupa dele mais tempo (em especial se o amamenta), e também do pai:

  • Compreenda que o seu padrão de sono vai mudar com o nascimento do bebé e assegure-se que os restantes membros da família compreendem e que estão prontos a ajudar
  • Assuma que o seu sono é uma prioridade em função do atendimento que tem que dar ao bebé. Programe a atividade dos outros membros da família e da casa em função das mudanças que se avizinham
  • Aproveite para dormir ou mesmo só descansar quando o bebé estiver a dormir, sempre que puder. Se tiver mais filhos, pode ter que aproveitar este período para lhes dar mais atenção / brincar um pouquinho com eles 
  • Minimize as suas responsabilidades – os trabalhos domésticos podem esperar e não precisa de atender todas as visitas (silencie o telemóvel, coloque um aviso na porta: “Não podemos atender. Mãe e bebé a dormir!”)
  • Mamadas – nas primeiras semanas, a sua frequência é maior. Durante a noite, procure que o ambiente seja muito pouco estimulante – calmo, com pouca luz, sem qualquer equipamento eletrónico – para que no fim da mamada, mãe e bebé adormeçam mais rapidamente 
  • Peça ajuda para as mamadas noturnas. Se o bebé for alimentado com biberon pode pedir que outra pessoa lho administre, enquanto aproveita para dormir um pouco mais. Se é alimentado ao peito, poderá eventualmente fazer uma reserva de leite extraído de modo a poder ser administrado pelo pai ou outra pessoa
  • Quando dormir mantenha o bebé perto (berço colado à cama) mas evite partilhar a cama com ele
  • Não stresse por o bebé chorar. Todos os bebés choram. Há variadas razões – fralda molhada/suja, fome, sede, frio ou calor, necessidade de colo – ou pode não haver nenhuma razão específica. Se acha que as necessidades do bebé estão satisfeitas, espere um pouco para ver se ele acalma antes de lhe pegar 
  • Se tiver grande sonolência ou se sentir cansada, exausta, peça ajuda ao seu médico
  • Tenha calma, as coisas terão tendência a melhorar depois dos 3-4 meses em que os períodos de sono se começarão a concentrar mais no período da noite. Comece gradualmente a tentar incutir alguma rotina e regularidade nos hábitos de sono do seu bebé. Todos beneficiarão!
    1. Mantenha o bebé a dormir preferencialmente no seu quarto (dos pais) durante os primeiros meses de vida
    2. Procure colocá-lo no berço ainda acordado, mas sonolento 
    3. O quarto deve ter um ambiente confortável, de baixa luminosidade e ruído
    4. A meio da noite não atenda de imediato aos sons emitidos pelo bebé. Espere um pouco, pode estar simplesmente a aconchegar-se para readormecer. 

A privação de sono é considerada uma das queixas mais comuns das mães recentes. É subestimada pela magia do primeiro sorriso, pelo prazer sentido no aconchego do bebé ao colo, pela maravilhosa sensação de contacto com o corpo e a pele do bebé e o seu inesquecível odor, pelo acompanhamento das várias etapas do seu crescimento. 

Mas… quanto melhor for o seu sono, mais os pais podem desfrutar dos prazeres da parentalidade.

Maria Helena Estêvão 
(Médica Pediatra, com competência em Medicina do Sono)

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