Duvido da justiça que procrastina, do ensino por bitola e da felicidade por amostra.
Apesar das minhas dúvidas, aconselho-vos a acreditar…

Abençoados os livros que me ensinaram tanto… São os meus grandes amigos e por isso sempre duvidei de quem usa os livros para decorar uma estante (seja ou não do Ikea). Uma estante não é o lugar dos livros (ou dos amigos). Com os livros eu consigo ter conversas com atores desiguais, perceber as diferentes experiências, conhecer novas formas de conhecimento, escutar o diálogo entre gerações, perceber as teias ou como poderei construir novas pontes. Os livros permitem-nos tudo, até sonhar…

Aprendemos a viver juntos. (Eu e os livros).

Gosto de aprender com os que continuam a ler, com os que acreditam no mundo maravilhoso em que vivemos, com os que creem na Medicina – que não é uma ciência da treta – na Medicina que exige ensaios duplamente cegos, na Medicina que cuida do outro, que procura o seu bem-estar e que não é só um negócio. (O conceito de negócio é tremendamente complexo, por isso não o discuto, mesmo quando não envolve dinheiro.)

Mas também tenho dúvidas e muitas, por culpa ou não dos meus amigos livros. Duvido da ciência do futebol, quando anula um golo de uma grande jogada por 1, 2 … 5 centímetros e não analisa a força do vento que sopra, a gravidade, a força e o jeito com que a bola foi rematada.

Duvido de um Estado que permite lucros “ estranhos” a bancos que foram “ fabricados” com o dinheiro dos contribuintes e que hoje continuam a enriquecer, no desrespeito total pelo dinheiro de quem trabalha. Duvido de alguns instrumentos para a paz e duvido de muitos governos que não governam. Duvido da justiça que procrastina, do ensino por bitola e da felicidade por amostra.

Apesar das minhas dúvidas, aconselho-vos a acreditar que ainda vai haver transvase de água do Norte para o Sul, que em Portugal existirá liberdade, que os Professores Primários voltarão a ter grande prestígio, que as crianças serão felizes e que o País não se transformará numa selva de betão pintada com as cores do Arco-íris… Não são previsões, são antevisões de um país que se constrói com a ajuda de todos.

Valorizo muito a diferença que há entre cada um de nós, e a diversidade não está só nas opiniões diferentes que se completam na verdade do “ não” que é dito com convicção. Detesto o “sim” subserviente, oportunista, o dos bonzinhos… Mas é esta mesma diferença que, quando se junta à verdade, encontramos o melhor que há em cada um de nós. Procuremos este diálogo, da diferença, mas com verdade!

António Travassos
(Médico, Oftalmologista)

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