A avaliação e/ou validação do estado da memória pode passar pelo visionamento de imagens de ressonância magnética, um aliado fidedigno para ajudar a perceber defeitos de memória ou para testar o seu funcionamento

 

Com o aumento da longevidade, vamos assistindo ao aumento progressivo de doenças que comprometem a memória: umas neurodegenerativas, como a Doença de Alzheimer, outras adquiridas, como a Demência Vascular.

Sabe-se, desde há longa data, que os hipocampos são estruturas fundamentais para a memória. Estas pequenas estruturas loca lizam-se na região interna dos lobos temporais e têm a particularidade de receber e transmitir informação, estabelecendo reci procamente circuitos com estruturas corticais, predominantemente temporais mesiais e pré-frontais.

A ressonância magnética estrutural é uma técnica de imagem de primeira linha no estudo de doentes com defeito de memória, permitindo analisar alterações estruturais e volumétricas que apontam para a doença em causa: demências neurodegenerativas, como a Doença de Alzheimer e a Demência Frontotemporal; Demência Vascular, causada por lesões vasculares estratégicas ou multienfartes; Hidrocefalia de Pressão Normal; causas tóxicas, como a Encefalopatia Alcoólica, etc.

O grande objetivo é o reconhecimento precoce destas doenças, numa fase em que se manifestam por defeitos cognitivos minor, no sentido de usar estratégias terapêuticas que interrompam ou atrasem a progressão da doença.

A Doença de Alzheimer apresenta um padrão de atrofia centrada predominantemente nos lobos temporais e parietais, podendo ser útil efetuar a volumetria dos hipocampos, que estão igualmente atrofiados. Por outro lado, a Demência Frontotemporal, também uma doença neurodegenerativa, apresenta um padrão de atrofia diferente, mais centrado nos lobos frontais e nas regiões temporais anteriores e menos nos hipocampos.

 

Aprendizagem e armazenamento

 

A nossa perspetiva do mundo vem basicamente dos nossos órgãos dos sentidos, cuja informação começa por ser codificada nas estruturas corticais, passando pelos circuitos envolvidos na memória.

Muita da informação que recebemos não é inteiramente nova, apenas ativa e consolida redes neurais já estabelecidas que incluem o hipocampo e os neurónios corticais envolvidos nesse circuito específico. Experiências sensoriais, como um odor, um som, uma dor localizada, ativam e reforçam uma determinada rede neural, antecipando a resposta do indivíduo.

A aprendizagem resulta assim da capacidade de processamento e armazenamento de nova informação em circuitos que posteriormente poderão ser recuperados ou reforçados por informação relacionada.

A linguagem localiza-se habitualmente no hemisfério cerebral esquerdo e, da mesma forma, o lobo temporal do hemisfério dominante, habitualmente o esquerdo, está especializado na aprendizagem e consolidação de material verbal, enquanto a memória visual está mais frequentemente adstrita ao lobo temporal direito. Contudo, existem condições como a Epilepsia do lobo temporal dominante, causada por anomalias congénitas como malformações do desenvolvimento cortical, nas quais ocorre transferência da memória verbal para o hemisfério não dominante.

A cura deste tipo de epilepsia pode implicar a remoção cirúrgica das estruturas temporais mesiais e corticais, pelo que é essencial saber se houve efetivamente transferência da memória verbal para que não ocorra um defeito mnésico grave.

Num passado relativamente recente, a avaliação da memória e da linguagem era efetuada mediante anestesia do hemisfério cerebral ipsilateral à cirurgia, através da administração arterial seletiva de um barbitúrico, na angiografia. O teste de Wada foi descontinuado por falta do amobarbital sódico e também porque era um estudo invasivo, com morbilidade associada e com alguma controvérsia relativamente ao seu real valor preditivo.

Neste caso específico, a ressonância magnética funcional tem vindo a afirmar-se como uma alternativa válida para a lateralização da linguagem e da memória verbal e visual. São utilizadas sequências rápidas, sensíveis à variação do nível de oxigenação sanguínea na microcirculação cerebral ativada, simultaneamente com a apresentação de uma tarefa que consiste na memorização de palavras, no caso da memória verbal, ou na memorização de faces, desenhos abstratos, lugares ou cenas, quando se pretende testar a memória visual.

 

Egídio Machado

(Médico, Neurorradiologista)

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