Pode ser porque a criança não vê bem ao longe? Pode. Mas a origem também pode estar no excesso de atividades, no jogo que não correu bem, na noite que quase não dormiu ou pelo excesso de tempo que passou ao telemóvel. As crianças e os adolescentes podem ter dores de cabeça, não é uma questão de idade

Parte-se do princípio que a criança não tem idade para ter dores de cabeça (cefaleias), mas não é bem assim. Depois, basta a frase: “mãe dói-me a cabeça” para os pais ficarem logo de alerta e com ansiedade.

Se é certo que as cefaleias ou dores de cabeça são pouco frequentes nos primeiros anos de vida, também é verdade que podem aumentar com a idade e são mesmo bastante comuns na adolescência, tornando-se uma causa frequente de absentismo escolar.

Quando as dores de cabeça não estão relacionadas com outros problemas de saúde, denominam-se cefaleias primárias. As cefaleias primárias mais frequentes na criança são a cefaleia de tensão e a enxaqueca. Nas cefaleias de tensão, a dor é difusa e bilateral, descrita como “pressão”, tendo uma intensidade ligeira a moderada. 

Mas, a criança também pode ter enxaquecas e, não raras vezes, os seus familiares também têm queixas semelhantes, caracterizando-se a dor por ser predominantemente unilateral e pulsátil, podendo ser acompanhada de náuseas e vómitos e de hipersensibilidade à luz e/ou som. E neste caso, as enxaquecas são muitas vezes intensas e incapacitantes.

Frequentemente é possível identificar fatores que desencadeiam as dores de cabeça e o cansaço, a privação de sono, o stress emocional, o excesso de tempo passado a olhar para écrans ou a ingestão de alguns alimentos, bebidas ou medicamentos são agentes bem conhecidos. 

Com o objetivo de reduzir a frequência e intensidade das dores de cabeça, é muito importante promover hábitos de vida saudável: incentivar a atividade física regular, reduzir o tempo de exposição a écrans, cumprir o tempo de sono adequado à idade e manter uma dieta equilibrada, com ingestão adequada de água ao longo do dia.

Na enxaqueca e na cefaleia de tensão, o repouso muitas vezes ajuda no alívio da dor. Nas cefaleias mais intensas, pode ser necessária a administração de um analgésico/anti-inflamatório em dose adequada ao peso da criança, de acordo com a prescrição médica. 

As dores de cabeça nas crianças podem também ser uma manifestação de doença subjacente, denominando-se neste caso como cefaleias secundárias, sendo as mais frequentes a infeções virais, habitualmente benignas. No entanto, mais raramente, podem resultar de doenças mais graves, como meningites ou tumores cerebrais. 

Alguns sintomas podem estar associados a um risco maior de doença séria subjacente e por isso justificam observação médica, nomeadamente:

  • Cefaleias em idade pré-escolar, muito intensas ou muito frequentes ou com agravamento progressivo;
  • Cefaleias que surgem durante o sono e/ou ao acordar; 
  • Cefaleias associadas a outros sintomas como febre, dificuldade em mover o pescoço, vómitos, perturbações visuais, alteração do comportamento, dificuldades na marcha.

Alexandra Salazar
(Médica, Pediatra)

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