Trocar o sofá da sala, por um passeio ao ar livre continua a ser a opção mais saudável. Mas como? De carro, a pé ou de bicicleta? Qualquer uma das opções é bem-vinda. Para já, apostamos na bicicleta e deixamos uma dica para os homens: almofadar os calções é mais importante do que ter um selim confortável
Nestes tempos só apetece sair de casa. Já chega de estar sentado no “Lar, doce lar”. Temos necessidade de sair. Não sonhamos necessariamente em sair para muito longe, mas também não nos imaginamos a trocar a sala de casa pelos corredores de um centro comercial. Queremos, isso sim, a nossa liberdade. Poder ir, conviver…. Com os outros e com a natureza. Respirar ar puro.
Dar um passeio a pé é óptimo, liberta, permite-nos fazer exercício físico ao mesmo tempo que mudamos de lugar. É, sem dúvida, o meio de locomoção mais natural e o que mais liberdade nos dá. Não há (quase) regras a cumprir e as que existem são elementares. Somos donos do nosso desígnio. Mas o alcance da viagem é relativamente curto – saímos do nosso bairro, mas dificilmente saímos da nossa terra, pelo menos em tempo útil. É bom, mas não dá para sair completamente de “casa”. Por outro lado, dar um passeio de carro permite-nos ir para longe, ir muito para além da nossa terra. Mas a viagem em si faz-se num espaço mais pequeno do que a nossa casa. Mais pequeno do que o nosso quarto. E temos muitas regras a cumprir. E continuamos sentados…
E a bicicleta? Esse meio de locomoção extraordinário que, no essencial, multiplica os nossos passos, faz com que consigamos andar mais rápido e para mais longe. Podemos ir a outras terras, decidir os caminhos – podem ser os mesmos que escolheríamos se fossemos a pé. A nossa liberdade é quase a mesma da que temos quando andamos a pé – talvez mais ainda, pois o horizonte é mais amplo. E vemos o mundo (um pouco) mais de cima. Não nos faz “voar”, mas quase…
Andar de bicicleta faz bem à saúde, é sabido. É um exercício essencialmente aeróbico de baixo impacto, protege as articulações, enquanto “fortalece” os músculos, o coração e os pulmões. Reduz a incidência da hipertensão e diabetes, diminui a obesidade, o risco de AVC’s e de enfartes do miocárdio. E mesmo o risco de cancro. E é bom também para reduzir o stress, a ansiedade e a depressão.
Enquanto estabilizamos o corpo em cima da bicicleta, exercitamos o equilíbrio, a postura e a coordenação. Ficarmos focados na estrada enquanto pedalamos, estimula a concentração e a consciência do momento. É o “mindfulness”, tão em voga – tira-nos o foco do turbilhão do dia-a-dia e ajuda-nos a prestar atenção ao que é básico – respiração, equilíbrio, movimento coordenado. Mas, apesar de todos os benefícios, andar de bicicleta pode trazer problemas. E não falamos apenas de quedas e acidentes… Pescoço, mãos, punhos, coluna, joelhos e períneo podem ser vítimas de pressões mal distribuídas enquanto pedalamos.
Podemos sentir dores, sensação de peso e desconforto localizados. Mas disso damos conta, essas não nos passam ao lado, são problemas de “superfície” que compreendemos bem e que, talvez por isso, não nos assustam muito. Por outro lado, pelo menos para os homens, há outras preocupações.
Será que longas horas de esforço em cima de um selim fazem mal à próstata? Ou causam “impotência”? Ou alteram o PSA?
Há muitos estudos sobre o tema, alguns de grande dimensão, mas este é um assunto que gera alguma controvérsia. Podemos dizer que a próstata não sofre com o ciclismo. Está muito profunda, protegida dos traumas de contacto superficial. Definitivamente, andar de bicicleta não provoca cancro da próstata – se alguma coisa faz, é diminuir o risco! Nem provoca prostatites! A análise da literatura, sobre os efeitos do ciclismo nos valores do PSA, mostra que não parece haver influência significativa. Por prudência, talvez se deva evitar realizar o doseamento do PSA após prática prolongada de ciclismo, mas nada de mal vem daí.
E a função sexual? Haverá risco de “impotência”?
O contacto perineal com o selim, especialmente se este for mal adaptado à anatomia do ciclista, pode ser traumático e comprimir o nervo e os vasos pudendos. As parestesias do períneo, pénis, escroto ou nádegas são, provavelmente, o sintoma mais comum da compressão nervosa, sendo por vezes o único sinal e um potencial marcador de risco para a disfunção eréctil. Podem ocorrer ainda outros sintomas, como dificuldades em atingir o orgasmo, sensibilidade alterada durante a ejaculação ou a defecação e dor perineal.
Contudo, o balanço no que à função sexual diz respeito é francamente positivo.
Um estudo americano avaliou a função sexual num universo de quase 4 mil homens, dos quais 63% faziam ciclismo e os restantes eram praticantes de corrida ou natação. Os resultados mostraram uma tendência para melhor pontuação no inquérito de actividade sexual nos ciclistas, quando comparados com os restantes, confirmando o que outros estudos já haviam verificado (incluindo um estudo inglês com mais de 5 mil homens): o ciclismo não prejudica a função sexual, se algo faz é melhorá-la! Em qualquer dos casos, sabe-se que quem pratica desporto, seja ele qual for, tem menor incidência de disfunção eréctil, face aos que têm vida sedentária. Por outro lado, esse mesmo estudo americano encontrou uma tendência para mais queixas de desconforto perineal e uretral nos ciclistas.
Para minimizar os riscos de lesões traumáticas impõem-se alguns cuidados, designadamente adoptar uma posição correcta na bicicleta, com o acerto ajustado da altura do selim, da inclinação e da distância para o guiador; o selim deve ser ergonomicamente construído, almofadado, mas não excessivamente – porque, mais importante do que o selim, é a utilização de calções almofadados durante a prática. Sugere-se ainda realizar alternâncias de posição regularmente, evitando assim posições viciosas mantidas.
Que não sobrem dúvidas, no ciclismo, os benefícios da obtenção de uma boa capacidade cardiovascular, física e mental, suplantam de forma clara os potenciais riscos inerentes à sua prática. Homens (e mulheres), desconfinem deixando as chaves do carro para trás. A bicicleta é uma excelente opção, também para isso.
Arnaldo Figueiredo
(Médico, Urologista)
Nota: Autor em desacordo com o Acordo Ortográfico de 1990
Óptima informação com as indicações próprias para a prática…desportiva e saudável…de andar de bicicleta.
Obrigado.
ReplyAo Senhor Dr. Arnaldo Figueiredo, envio um forte abraço de parabéns pelo seu artigo.
ReplyVou fazer 72 anos em Agosto próximo, ainda faço, em média, 500/600 quilómetros por mês em bicicleta de estrada (não faço mais por falta de tempo) e o meu PSA é de 1.63. Embora tenha boa saúde, física e mental, vou 3 a 4 vezes por ano ao meu médico assistente (e Bom Amigo) Dr. Vitor Rodrigues para verificar a minha condição física.
Em resumo, a bicicleta sempre fez parte da minha vida desde pequeno e é uma mais valia para a minha condição física.
José Castela
Fiquei de rastos, apreensiva e ‘sem chão’ para pedalar… Num episódio médico, com hiperplasia da próstata, ainda em recuperação, foi dada a indicação que andar de bicicleta, era assunto encerrado, para esquecer. Algo que fazemos frequentemente, com uma alegria e gozo inimaginável. km no pêlo, suor e dores generalizadas no final dos passeios são avaliados de forma ‘ alegre e divertida’.
ReplyHá lá algo melhor que nariz ao vento, paisagens colossais, sol e mosquitos ao fim da tarde!
Não queriamos nada perder algo que tanto nos une na forma de estar e sentir, exercício fisico na bike pelos trilhos da natureza.
Obrigada Dr. Arnaldo por desmitificar este assunto, sou neste momento uma mulher esclarecida e feliz, tenho novamente na minha presença um rosto masculino cheio de brilho e vontade.
Alerto apenas para o fato de não ter referido no artigo, a possibilidade de fraturas dentárias! Sim, dentes no alcatrão. Mas também este tem resolução. Acontecem, e eu que o diga, mas a vontade e gosto pela bike desde criança, fazem superar as questões menos positivas.
Homens deste portugal, pedalem, as prostatas agradecem e convidem as vossas mulheres para pedalar, fico triste por ver tão poucas. Afinal é um assunto que deveria pertencer a ambos
Bem haja