Em Ciência, a verdadeira descoberta só ocorre quando o cientista abdica do desejo de manipular e aceita com elevação o que vê. Não se faz Ciência por ambição. Faz-se por paixão pelo real, e não pelo sucesso.
A Ciência é um dos caminhos para chegarmos à verdade, mesmo sabendo que pode não ser encontrada. Entre a Luz, as Trevas e a Verdade ainda há quem resista – às vezes – e quem saiba dizer sim ou não.
A luz da Ciência sempre nos fascinou … Desde os pré-socráticos até aos nossos dias, a Ciência promete iluminar, medir, prever… Transforma o invisível em cálculo, e o cálculo em controlo. E, raras vezes, percebemos que também há uma luz que cega – a luz do orgulho, da explicação forçada, da evidência manipulada. O Amor e a Verdade exigem renúncia a esse egoísmo pessoal.
A Ciência que eu quero tem que ser sonhada, silenciosa, ética, respeitada, para ter crédito e ser real. A Ciência não pode ser um teatro de certezas construídas, onde a dúvida é vista como fraqueza, e o reconhecimento da ignorância como fracasso. A ignorância (como diria George Orwell) … é força.
A verdadeira Luz não é a que expõe tudo. É a que permite ver alguma coisa… É a que deixa espaço para o invisível. A escuridão que pode ser observada e investigada por uma mente lúcida, é muitas vezes generosa e capaz de ajudar a recusar um resultado incorreto e/ ou a vaidade de uma má conclusão.
Em Ciência, a verdadeira descoberta só ocorre quando o cientista abdica do desejo de manipular e aceita com elevação o que vê, o que escuta e respeita o que “aparece”, mesmo que confuso, contraditório ou sem aplicação imediata. A verdade será a única recompensa.
A escuridão fértil da Ciência é onde Ela se cria. É onde se espera. É onde se força. É onde a hipótese respeita o mistério do real…. É onde encontramos – num qualquer momento – uma migalha de um futuro determinado. A Ciência verdadeira será sempre um combate entre a ambição da razão e a humildade do espírito. Entre o cálculo e o silêncio. Entre a equação e o que a ela escapa.
Não se faz Ciência por ambição. Faz-se por paixão pelo real, e não pelo sucesso. Paixão pelo detalhe, e não pela fama. Paixão por entender – mesmo que isso nunca aconteça plenamente.
A verdade não é um produto.
A Ciência não se pode confundir com a indústria de “papers“, pagos para serem publicados, com “branding “ institucional ou com o financiamento competitivo. A verdade não se publica em série. A verdade não obedece a um qualquer sistema. É preciso coragem para dizer: Não sei. Este dado não basta. Esta evidência não convence. Esta tecnologia não serve. Este resultado não é ético.
A verdade é um valor absoluto, que exige sacrifício. Mentir – mesmo com boas intenções – é uma fraude, a nós próprios e aos outros.
A boa Ciência é um ato de Amor.
Não é conquista, é escuta.
Não é domínio, é atenção.
Não é carreira, é vocação.
Exige a coragem de não saber, a paciência de não provar e humildade, mas também a clareza necessária para não ceder. A Luz da Ciência só é verdadeira se nascer da sombra da Honestidade … a que eu aprendi com a minha Família e no meu Alentejo.
António Travassos
Médico Oftalmologista

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