Apesar de ser um órgão duplo, um dos olhos pode dominar. E quando essa posição muda, o conforto visual altera-se. Os exames feitos antes de uma cirurgia de catarata não detetam esta alteração, mas a confusão cerebral é percetível pelo próprio, foi o que me aconteceu 

Os olhos são o órgão responsável pela visão, mas toda a informação necessária, como a intensidade da luz, as cores, formas e movimento é processada pelo cérebro. Ou seja, os olhos são apenas um instrumento, porque na realidade é o cérebro que “vê”.

Em situações normais e tal como temos uma mão dominante para escrever e um pé que tem preferência para começar a subir uma escada, também existe um olho que é dominante. Sem nos apercebermos, o cérebro dá preferência a um dos olhos para ver e, normalmente, esse é o olho que tem melhor visão. E essa escolha é feita logo desde tenra idade.

No entanto e ao longo da vida, podem ocorrer alterações que mudam esta escolha preferencial, como é o caso da catarata, quando acontece uma opacificação do cristalino, resultando diminuição da visão. Normalmente é um processo lento, mas mais cedo ou mais tarde, acontece a quase todos. Faz parte do envelhecimento e da vida e a única solução é cirúrgica, com uma intervenção que substitui o cristalino por uma lente artificial. 

O problema fica resolvido e achamos que esta é a “cirurgia milagre”, porque de um dia para o outro, a visão recupera em qualidade e quantidade. Contudo, no decorrer deste processo e na prática pode acontecer um outro fenómeno que não é propriamente visível, nem detetado no pré-operatório. Foi o que me aconteceu e por isso partilho.

Durante o período de opacificação do cristalino, pode ocorrer uma alteração na perceção da visão que irá criar alguma confusão no cérebro. Isto acontece principalmente quando a catarata surge com mais expressão no olho dominante, aquele que vê melhor, afetando a qualidade da visão a que estávamos habituados há muitos anos. 

O olho que sempre foi dominante, deixa de o ser e essa função pode passar temporariamente para o outro olho, que toma o lugar de dominante. Durante este processo, o novo olho dominante começa a “mandar” e a ser o preferido pelo cérebro e é esta alteração de “poder” que poderá criar alguma confusão visual e cerebral.

No meu caso, apercebi-me desta alteração porque a catarata afetou primeiramente o meu olho dominante, o que provocou uma primeira alteração de dominância. A cirurgia foi um sucesso e a visão ficou recuperada, com uma qualidade que já não me lembrava, levando novamente a uma troca de olho dominante.

A confusão cerebral da dominância do olho com melhor qualidade de visão – criada pela opacificação dos cristalinos – só terminou depois da cirurgia de catarata feita ao segundo olho. Mas, se existir um intervalo grande entre o início da catarata e as cirurgias aos dois olhos, maior poderá ser a confusão em que se vive, embora possa haver uma adaptação durante neste período.

À partida este não parece ser um grande problema, mas o conforto visual é baralhado durante este período de tempo e pode ser detetado principalmente na visão para perto. A maneira como pegamos nos objetos, o posicionamento da cabeça para ver determinado pormenor, enfiar uma linha numa agulha e a visão estereoscópica são influenciados por esta alteração de dominância, que o cérebro acaba por fazer para obter a melhor imagem e melhor visão.

Depois de ter realizado a cirurgia ao segundo olho, ainda pode demorar algum tempo a voltar ao que antes era o normal. Ou seja, que cada um dos olhos assuma o papel que sempre teve ao longo de toda a vida.

Robert van Velze

Como saber qual é o olho dominante?

É muito simples, basta pegar numa folha de papel, enrolar e espreitar pelo tubo, encostando-o ao olho. Pode alternar entre o olho direito e o olho esquerdo, até perceber qual é o seu preferido. Também pode recorrer a um lápis, colocando a 30 centímetros do nariz. Em seguida foque um objeto ao longe e alinhe o lápis com esse objeto. Feche um e outro olho e o olho dominante será aquele em que o objeto que focou para longe, aparece alinhado com o lápis. Cerca de 70% das pessoas tem o olho direito como dominante.

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