Num curto espaço de tempo, o corpo humano sofre profundas alterações em quase todos os sistemas orgânicos, desde a nidificação até ao fim da lactação. Os distúrbios hematológicos também acontecem e não podem ser ignorados

A gravidez induz uma série de alterações fisiológicas que afetam os índices hematológicos, direta ou indiretamente. De facto, a gravidez é caraterizada por – num curto espaço de tempo – o corpo humano sofrer alterações profundas em quase todos os sistemas orgânicos, para que a unidade feto-placentária em crescimento e desenvolvimento possa ter o melhor desenvolvimento. 

As principais alterações hematológicas incluem a anemia fisiológica e um estado protrombótico (tendência à formação de trombos) ligeiro. O reconhecimento e o tratamento dos distúrbios hematológicos que ocorrem durante a gravidez são difíceis, pela escassez de evidências disponíveis para orientar os clínicos, mas que são essenciais para assegurar um bom desfecho materno-fetal.

A anemia secundária à deficiência de ferro é a complicação hematológica mais frequente e é facilmente tratada com fórmulas orais de ferro; no entanto não se deve ignorar outras causas de anemia, que devem ser estudadas e tratadas de acordo com as causas. De facto, a anemia constitui um problema global de saúde pública, afetando cerca de um quarto da população mundial nas quais está incluída a anemia gestacional.

Por outro lado, uma diminuição do número de plaquetas (trombocitopenia) também é uma razão comum para consultar o hematologista, que saberá distinguir a trombocitopenia gestacional da trombocitopenia imune, e de complicações graves da gravidez, como a pré-eclâmpsiae a síndrome HELLP (hemólise, elevação das enzimas hepáticas e plaquetas baixas). Esta distinção é necessária e essencial, uma vez que os tratamentos são muito diferentes. Por outro lado, as doenças hemorrágicas hereditárias e adquiridas afetam as mulheres grávidas de forma diferente e exigem (frequentemente) uma monitorização cuidadosa dos parâmetros de coagulação, para evitar hemorragias no pós-parto.

Por último, o tromboembolismo venoso durante a gravidez continua a ser largamente responsável pela mortalidade durante a gravidez, pelo que o diagnóstico, as opções de tratamento e as orientações médicas para a sua prevenção devem ser cuidadosamente geridos durante toda a gravidez.

O aborto espontâneo e o aborto recorrente afetam uma proporção significativa de toda a população e têm impactos psicológicos profundos e muitas vezes prolongados. Estes casais devem ser objeto de uma investigação aprofundada, uma vez que existem intervenções terapêuticas e de estilo de vida que podem evitar a repetição destas situações.

Ana Luísa Areia
(Médica, Ginecologista e Obstetra)

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