Não é fatal, mas é uma doença do cérebro que provoca dor de cabeça por horas ou durante alguns dias. A enxaqueca não tem cura, mas pode ser “tratada”. Há estratégias acessíveis. Outra boa notícia é que uma gravidez ou a pós- menopausa podem trazer mudanças, desencadeando melhorias espontâneas

É a doença neurológica mais frequente e afeta principalmente o sexo feminino. A enxaqueca desencadeia uma dor de cabeça real e pode ou não ser antecipada de outros sintomas mais complexos. Se por si só, a dor de cabeça latejante já é preocupante, a enxaqueca com aura revela-se mais inquietante, pelo tipo de sintomas que a antecede e que podem fazer crer que nada têm a ver com a dor de cabeça, que entretanto se instalou.

Numa enxaqueca com aura é possível que a dor de cabeça seja antecedida de alterações visuais, como visão embaciada, flashes de luz e perda temporária de visão. Os sintomas associados à enxaqueca com aura também podem incluir tontura e perda de equilíbrio, formigueiro nos membros, sensação de presença de um ruído no ouvido, náusea, vómito, transpiração excessiva e dificuldade em falar. 

Sintomas que antecedem ou acompanham uma crise de enxaqueca e que vão aumentando progressivamente, durante 20 a 60 minutos. Até que fica apenas a dor de cabeça, que pode ter uma duração de horas ou prolongar-se durante dias.

Na enxaqueca, a dor de cabeça num ou nos dois lados da cabeça e a intolerância ao barulho e à luz são predominantes. O diagnóstico é clínico e compete ao médico neurologista fazer uma avaliação e divulgar as estratégias que existem para prevenir ou evitar as crises que, não raros casos, podem surgir uma, duas ou mais vezes por mês.

Seja enxaqueca com ou sem aura, a patologia não tem cura e ainda se conjetura sobre as causas. Admite-se que o nível de presença de estrogénios pode ter um papel importante, o que explica que este tipo de cefaleia seja muito predominante no sexo feminino. 

O aumento e as flutuações de estrogénios ajudam a explicar porque a enxaqueca está tão presente na puberdade, o oportunismo que a enxaqueca cria com a menstruação, mas também porque na pré-menopausa este tipo de cefaleia se torna quase incontrolável, porque a toma de contracetivos pode agravar ou porque uma gravidez ou o pós menopausa podem ser momentos espontâneos de controlo desta dor de cabeça. 

As flutuações das hormonas sexuais femininas, que existem durante algumas fases da vida, podem ajudar a explicar porque nuns casos a prevalência da enxaqueca aumenta e, noutros, diminui.

Se não existe cura e se a enxaqueca nos pode acompanhar durante longos períodos da vida, o melhor que se pode fazer é aprender a evitá-la, recorrendo as estratégias de prevenção.

Admite-se que a genética e os fatores ambientais são responsáveis pelo desencadear das crises, mas também se acredita que para além da medicação específica (que o seu médico pode prescrever), também é importante aprender a estudar os momentos de crise e perceber o que se pode e deve evitar.

É consensual que a falta de sono, a fome (saltar refeições), o stress ou alterações de temperaturas podem desencadear uma crise de enxaqueca, bem como alguns alimentos, o vinho tinto, café em excesso, uma estimulação excessiva dos sentidos ou a toma frequente de analgésicos. É ainda aconselhado que se faça um diário, com o registo do dia das enxaquecas, bem como a intensidade, duração e o que antecedeu o momento da crise. Informação que será muito útil, quando são avaliadas todas as crises no geral, para que se perceba qual ou quais os fatores que desencadearam esse momento, identificando-se melhor algumas causas.

O exercício físico e as técnicas de relaxamento são alternativas que podem ser aplicadas a todos os casos mas, não raras vezes, o médico poderá sempre sugerir outras intervenções, aplicadas a cada caso.

Marlene Esperança Carvalho

(Médica, Neurologista)

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