Clinicamente, o termo andropausa é incorreto, mas isso não significa que o normal envelhecimento dos homens não exista e não provoque alterações. Elas existem, mas de forma muito progressiva. O declínio da testosterona é lento e pode acontecer a partir dos 30/40 anos, mas os efeitos não são iguais para todos

Chama-se síndrome de deficiência androgénica e faz parte do normal envelhecimento masculino. Cientificamente, o termo andropausa (por paralelismo com a menopausa) não é o correto, apesar de também existir uma alteração hormonal, mas em nada semelhante ao que acontece no sexo feminino.

Primeiro que tudo é preciso perceber que as alterações hormonais fazem parte de um envelhecimento normal e os homens não escapam e também envelhecem mas, neste caso, de forma diferente. A diminuição da produção da hormona testosterona acontece de forma lenta e gradual e não de forma irreversível e abrupta, como acontece na menopausa das mulheres. Ou seja, no sexo masculino, este processo pode começar a partir dos 30/40 anos, mas existem casos em que, aos 80 anos, ainda mantém a produção de espermatozoides.

No homem, a deficiência androgénica dá-se de forma muito gradual e lenta e as manifestações clínicas desta nova fase da vida podem ser inexistentes ou podem chamar a atenção. Mas, nem sempre, nem nunca e existem casos em que os sintomas podem exigir atenção e mesmo alguma terapia, como a reposição hormonal.

Em Portugal ainda impera a ideia da figura do “macho latino” inabalável e resistente e por isso este continua a ser assunto tabu, pouco se fala e poucos são os homens que procuram uma consulta e solução. Os sintomas de uma deficiência androgénica nem sempre são confessados, mas as queixas mais comuns podem incluir cansaço, diminuição da energia habitual, disfunção eréctil, infertilidade, diminuição do desejo sexual, insónia, depressão, cansaço, tristeza, problemas de concentração e memória e ainda aumento da gordura – principalmente abdominal – diminuição de massa muscular e osteoporose.

No caso do sexo masculino, não existe uma idade definida para a deficiência androgénica se instalar e por isso, o défice (com ou sem sintomas) pode acontecer aos 40, aos 50 ou aos 70 anos. Não há um marcador que defina o momento exato, tal como nem todos os homens vivem esta fase da mesma maneira. Até porque os homens que sempre seguiram uma vida ativa têm maior probabilidade de nem sentirem estas alterações. No oposto, nunca é por demais lembrar que o álcool em excesso, o tabaco, os abusos alimentares, o stress e o sedentarismo são fatores que antecipam o envelhecimento.

O diagnóstico de síndrome de deficiência deve ter em conta os níveis de testosterona que existem no sangue, apesar de muitos homens apresentarem valores inferiores ao que é considerado normal e não referirem sintomas ou qualquer tipo de alteração na qualidade de vida. 

Apesar de esta ser uma fase de envelhecimento perfeitamente normal, há casos em que é sugerido tratamento, tendo em conta a necessidade de aliviar alguns sintomas e proporcionar melhor qualidade de vida. As mudanças de estilo de vida são altamente recomendadas, com destaque para o exercício físico e uma alimentação saudável. Existirão ainda outros casos em que se deve ponderar a reposição de testosterona, balanceando individualmente as vantagens e os riscos.

Certo mesmo é que esta é uma fase natural que surge com o avançar da idade, não se consegue prever quando, nem qual a intensidade. Apenas é certo que irá acontecer.

Sílvio Bollini
(Médico, Urologista)

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