A ansiedade e o stress acompanham-nos sempre, para o bem e para o mal. A sua utilidade é benéfica, por exemplo, na época de exames ou quando conduzimos um automóvel. É quando atinge níveis que inibem ou descontrolam a nossa ação que acaba por dar lugar ao medo e ao pânico. Seguem-se os sintomas orgânicos.

Quando nos referimos ao stress subentendemos uma manifestação de mal-estar ou sofrimento resultante de dificuldades numa qualquer área da vida quotidiana. Na realidade, a distorção desta noção generalizada não é grande, pois o stress não é mais do que uma resposta psicofisiológica ao impacto de uma vivência numa determinada situação.

São variados os fatores que podem funcionar como estímulos stressantes. Podem estar ligados ao trabalho, à família, vida afetiva ou outras áreas da vida de cada um. É óbvio que cada pessoa reage aos estímulos com que se confronta diariamente de forma diversa, dependendo em grande parte da respetiva personalidade. O stress do dia-a-dia, para além dos transtornos que provoca, é ele próprio, muitas vezes, indutor de mais preocupação e logo de mais transtornos, numa espiral cada vez mais forte, que pode levar à exaustão emocional.

A patogenia social está, na grande maioria das síndromes, associada ao stress e às sociedades modernas que valorizam excessivamente fatores como a competitividade e que introduziram variáveis altamente indutoras de agressividade, tensão e, particularmente, insatisfação pelo exercício profissional, estilo e modo de vida social.

Para uma parte significativa da população, o produto de toda uma continua vivência penosa manifesta-se num conjunto de sofrimento e dor, acompanhados de perturbações como, ansiedade, depressão, consumo de substâncias e outras morbilidades que se têm revelado comuns, dispendiosas e incapacitantes.

Num mundo onde se vem realçando a importância da qualidade de vida e da sua relação com o bem-estar das pessoas, é notório que temos pela frente uma tarefa árdua e complexa para compatibilizar o desenvolvimento com a melhoria dos fatores humanistas das sociedades. Pensamos que nesta avaliação do bem-estar teremos que levar em conta os contextos sociais e culturais, sem negligenciar as expectativas individuais.

Sabemos que as circunstâncias de vida podem induzir vulnerabilidade ao stress ou, noutras ocasiões, aumentar a resistência psicológica às adversidades, dependendo esta diferenciação da intensidade dos fatores stressantes e da capacidade individual para lidar com os fatores adversos.

Todos os dias, cada um de nós faz uma avaliação dos perigos e dificuldades com que se debate, sentindo-nos vulneráveis quando percecionamos não possuirmos aptidões e recursos para os ultrapassar, criando-se então uma sensação de insegurança, que pode conduzir a uma descompensação emocional.

Quando a avaliação revela a existência de capacidades para superar e resolver as dificuldades concretas, a autoconfiança e a autoestima aumentam e o grau de satisfação é gratificante. Em consequência, no futuro, vai verificar-se uma potencialização das respetivas capacidades nos confrontos com o meio exterior, enquanto que, no primeiro cenário, a vulnerabilidade produz inibição e facilita as recordações de experiências anteriores traumáticas, dando origem, frequentemente, a estados de frustração e exaustão emocional.

Sublinhando o que já foi dito anteriormente, para além das características da personalidade, existem ainda outras condicionantes que aumentam a vulnerabilidade ao stress, como a falta de apoio social, condições de vida adversa e ausência de um bom ambiente afetivo. Estas condicionantes podem precipitar ou potencializar psicopatologias e facilitar a eclosão de distúrbios orgânicos da família das doenças psicossomáticas. Há fases na vida em que as dificuldades adaptativas se apresentam com maior exigência e frequência e, deste modo, a ansiedade aparece sob as mais variadas formas, como manifestações das respostas adaptativas adotadas.

Com frequência as pessoas têm sintomas de ansiedade, mas, apesar disso, a taxa de procura do médico é baixa de acordo com os vários estudos, podendo afirmar-se também que, dos que recorrem ao médico, quase metade apresenta, em sobreposição, sintomas depressivos. Há controvérsia, entre os profissionais de saúde, na distinção entre estados de ansiedade e depressão e, mesmo clinicamente, esta diferenciação é difícil, pelo que a terapêutica tem utilizado geralmente a noção da sobreposição de estados e a utilização de antidepressivos tem sido eficaz e benéfica, ganhando cada vez mais terreno ao uso de ansiolíticos.

Voltando um pouco atrás, é importante sublinhar que a ansiedade convive connosco no dia-a-dia, o que é perfeitamente normal quando adequada às circunstâncias e resultante da nossa ação, face a um acontecimento ameaçador ou percecionado como tal. Assim, a ansiedade é benéfica para nos estimular e nos levar a agir; todos sabemos da sua utilidade, sendo os dois exemplos mais comuns, os estudantes na altura dos exames ou a condução de veículos, tornando-nos mais cuidadosos. Concluindo, podemos afirmar que o stress e a ansiedade que nos acompanham são benéficos, quando facilitam respostas e comportamentos adequados e necessários perante situações e vivências quotidianas.

Quando a ansiedade inibe ou descontrola a nossa ação, como em todas as situações em que não saibamos como agir, originam-se níveis altos de stress, criando-se medos, tensões, pânico e sintomas orgânicos. Nestes casos, o stress causa «estragos» na nossa saúde e por isso devemos procurar ajuda para ultrapassar estas dificuldades emocionais e o sofrimento delas resultantes.

Finalizamos com um aviso de alerta a todos os que sentem alívio destes estados na ingestão de substâncias, como o álcool. Com o tempo, este comportamento em vez de resolver a situação vai ser a causa de doenças, bem mais graves e potencialmente incapacitantes.

António Reis Marques
(médico psiquiatra)

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