Os estudos recentes revelam que 600 mil portugueses são desdentados totais e isso não é bom. As consequências da falta de dentes estendem-se muito para além da cavidade oral
A saúde oral é indissociável da saúde geral do indivíduo, contribuindo de forma inequívoca para o seu bem-estar, qualidade de vida e para a interação social.
O edentulismo é definido como a ausência total ou parcial de dentes, congénita ou adquirida. De facto, esta condição pode ocorrer devido a diversos fatores, entre eles, a doença periodontal avançada, a cárie dentária, os traumatismos, problemas oncológicos ou tão só uma condição que nasceu com a pessoa de uma forma total ou parcial, por anomalias do processo de desenvolvimento dos dentes.
A oitava edição do Barómetro da Saúde Oral, da responsabilidade da Ordem dos Médicos Dentistas, revelou que cerca de 60 em cada 100 portugueses tem pelo menos a falta de um dente, não contando para esta avaliação os dentes do siso ou os terceiros molares. Destes concidadãos, 36,1% têm falta entre 1 a cinco dentes, 9% entre 6 a 8 dentes, 7,6% falta mais de 8 e menos de 28 dentes e cerca de 6,2% são desdentados totais. Se este último número se refletir na população portuguesa, isso significa que existem cerca de 600 mil portugueses que são desdentados totais.
O Barómetro revela ainda que apenas metade dos desdentados parciais ou totais têm dentes de substituição, sendo que as próteses removíveis representam 36% e as próteses fixas cerca de 17%.
As consequências da falta de dentes na vida de um indivíduo estendem-se muito para além da cavidade oral. Consoante a severidade da situação, podem ocorrer dificuldades na mastigação ou na deglutição o que pode desencadear problemas digestivos, deficiências nutricionais e perda de peso. Além disso, a ausência de dentes pode afetar a capacidade de comunicação pela perda de clareza na fala, com consequências bastante negativas na interação social.
Por outro lado, e também de grande relevância, a gravidade da perda pode levar a uma alteração da identidade pessoal e da estética do rosto, o que pode conduzir a uma diminuição da autoestima e a um grande sofrimento psicológico. As consequências sociais são também evidentes, com particular relevo nos grupos mais desfavorecidos e na população mais idosa, manifestando-se em situações de exclusão social e de isolamento.
O tratamento do edentulismo, na maior parte dos casos, envolve soluções protéticas individualizadas totais, parciais ou unitárias através de próteses removíveis ou fixas, que podem ser sustentadas sobre outros dentes ou em implantes dentários. A precisão e o ajuste das próteses devem respeitar as necessidades de cada paciente. As diferentes opções têm as suas vantagens e desvantagens, que podem variar de acordo com o perfil do paciente, a alteração da morfologia facial, o estado da sua cavidade oral, as suas preferências e as considerações financeiras.
Em suma, o edentulismo é uma condição muito prevalente na população portuguesa com efeitos de longo alcance na saúde, bem-estar e no estilo de vida das pessoas. A compreensão das causas e consequências da perda dentária é vital para a sua prevenção e tratamento. Os avanços das técnicas médico-dentárias e da tecnologia dos materiais dentários permitem oferecer diversas opções de tratamento para ajudar os indivíduos a recuperar a função, a estética e a confiança nos seus sorrisos.
Fernando Guerra
( Médico Dentista)
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