Eu acredito na democracia e na liberdade, como princípio, meio e fim. Obviamente que admito que um polícia pode fazer greve, sem fechar os olhos aos assaltos, um professor pode fazer greve, sem renunciar aos seus alunos e a CP sempre fará greve parando os comboios.

Um enfermeiro ou um médico nunca pode fazer greve se esse ato “potenciar mortes evitáveis”. A bastonária dos enfermeiros nunca poderia vir a público admitir isso mesmo. O ato e a afirmação potenciam a revolta, mas também a desonra e o descrédito dos enfermeiros, dos médicos, dos hospitais e de todos quantos devem zelar pela saúde de todos nós. Confiamos neles e queremos acreditar que existem, precisamente, porque existem vidas, existem pessoas. “Potenciar mortes evitáveis “ não é de todo permitido, mesmo que os profissionais estejam em “exaustão”, como depois rematou.

Combater a morte evitável é, por princípio, a missão de todo e qualquer médico e enfermeiro, esteja ou não em greve. A vida do outro não pode, nem deve ser a moeda de troca para a democracia e a liberdade. O que aconteceu para chegarmos aqui?

O Serviço Nacional de Saúde Português é uma organização séria demais para os enfermeiros, os médicos ou os administradores hospitalares decidirem se podem morrer portugueses, seja porque há uma greve, seja porque faltam profissionais, seja porque faltam instrumentos, seja porque falta material, seja porque não há organização, seja porque…

O Serviço Nacional de Saúde é a esperança de vida, quem ainda não assimilou essa realidade mude de país, porque Portugal não precisa de descrentes, precisa de portugueses.

 

António Travassos
(médico oftalmologista)

 

 

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