Não errar dá muito trabalho. Prevenir o erro muito mais… Prevenir o erro em medicina é uma obra fascinante e assustadora. Fascinante porque nos projeta para o futuro, assustadora porque, muitas vezes, atiramos para os outros a intranquilidade que, para nós, ainda é dúvida.

Analisar e gerir detalhe sobre detalhe, sintoma sobre sintoma, a nossa experiência e a dos outros, a regra e a exceção, a informação válida e a desnecessária… Gerir todas as variáveis e equações assemelha-nos a supernovas ou meteoritos que caem em qualquer buraco negro que não sabemos explicar/interpretar…

A vida é sempre uma linha de montagem de incertezas, uma equação de múltiplas variáveis, um produto do binómio certo/errado. Foi de erro em erro que o homo sapiens construiu certezas em cima de argila e até se atreveu a criar ciência. Num tempo de incertezas, agitamos a Alma, investigamos as dúvidas, moldamos princípios e evitamos cometer os mesmos erros.

Sempre aprendi mais com os erros que cometi, enquanto médico e pessoa, do que com os sucessos. Um sucesso é um puzzle construído, desistimos quando o conseguimos completar. Um insucesso é a cabeça partida no jogo do quebra-cabeças.

Se errarmos procurando prevenir ou mesmo tentando predizer a doença é, em minha opinião, sempre menos grave do que errarmos por incompetência, distração, negligência ou ignorância não assumida.

Errar é humano. Não errar é, muitas vezes, sobre-humano. Não errar, às vezes, é um milagre…. É a grande sorte que se obtém com muito trabalho.

 

António Travassos

(Médico Oftalmologista)

 

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