Dia 2 de março de 2020: foi quando começámos. O nosso primeiro plano de contingência interno tem essa data. Desde então, vestimos batas, calçamos luvas, colocamos várias máscaras, falamos à distância, gastamos a pele das mãos e restringimos os acessos.


Primeiro com umas tendas improvisadas, depois com circuitos repensados. Ninguém estava preparado para esta luta desigual. Foi preciso conhecer a ameaça (o melhor que se conseguia), perceber como reagia e aprender as defesas.

Internamente, o SARS- CoV2 exigiu muito de todos nós. Guardámos os anéis, os brincos, relógios e colares e as senhoras deixaram cair o verniz, antevia-se que as unhas iriam fraquejar e assim foi.
Multiplicaram-se os alertas sobre os procedimentos de segurança. Um café deixou de ser o pretexto para uma troca de ideias e o almoço passou a ser um ato solitário.

Ao balcão, foi preciso aprender a comunicar com barreiras e o eco nem sempre foi um bom parceiro. O chão recebeu marcas vermelhas e o álcool gel distribuía-se a quem vinha por bem. O lugar do lado passou a estar vazio e foi preciso interiorizar que proximidade, nem sempre significa boa ou má vizinhança. Nos últimos 365 dias, manter a distância passou a significar respeito.

As carteiras ficaram no carro e os acompanhantes também. Foi difícil para todos, para o doente, para a família e para todos nós. Desengane-se quem pense que não nos custou assistir à separação das famílias à porta de uma casa que sempre acolheu todos.

Passado um ano, assumimos que voltaríamos a fazer o mesmo. Foi e é uma preocupação máxima proteger os que precisam dos nossos cuidados e proteger os nossos profissionais. Temos conseguido atingir esse objetivo.

Acreditamos que, mesmo com as novas variantes e com a ameaça ainda a pairar no ar, estaremos a um passo de aliviar algumas medidas e restrições. Até lá, iremos manter os cuidados e a proteção, por si e por todos nós.

Já sabe, use máscara, desinfete as mãos e mantenha uma distância segura. É um sinal de respeito.

António Travassos
(Médico Oftalmologista)

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