Há um desequilíbrio na quantidade de massa óssea e, consequentemente, uma fragilidade que pode acabar em fratura. Este é um indicador de osteoporose, uma doença que pode ser prevenida logo na infância. Na vida adulta continua a ser importante não só prevenir a osteoporose, como também a sarcopenia, um dos flagelos da população portuguesa

A osteoporose é uma doença caracterizada pela diminuição da densidade óssea e alterações da qualidade do tecido ósseo, conduzindo a um aumento da fragilidade óssea e, consequentemente, a um risco elevado de fratura. A palavra “osteoporose” vem do grego e significa “ossos porosos” e ocorre quando o corpo perde demasiada massa óssea, ou quando a produção de nova massa óssea não é suficiente para repor a que é perdida.

A diminuição da massa óssea está intimamente ligada com o aumento da idade e, especialmente nas mulheres, associada à menopausa, pela diminuição dos níveis de estrogénio, uma hormona que ajuda a manter a saúde óssea.

Existem, no entanto, outros fatores de risco:

  1. Idade: Com o passar dos anos, a densidade óssea tende a diminuir.
  2. Sexo: Mulheres têm maior risco, especialmente após a menopausa.
  3. Histórico familiar: Ter parentes próximos com osteoporose pode aumentar o risco.
  4. Deficiência de cálcio e vitamina D: O cálcio é essencial para a formação e manutenção dos ossos e a vitamina D ajuda na absorção do cálcio.
  5. Sedentarismo: A falta de atividade física enfraquece os ossos.
  6. Tabagismo e consumo excessivo de álcool: Ambos são fatores que afetam negativamente a saúde óssea.
  7. Uso prolongado de medicamentos: Corticosteroides e antirretrovirais para tratamento do VIH, entre outros.
  8. Doenças reumáticas inflamatórias crónicas: Como a artrite reumatoide.
  9. Síndromes de mal absorção: doença celíaca e doença renal crónica.
  10. Doenças endócrinas: Como da tiroide e paratiroide.

Sintomas

Na fase inicial da osteoporose – a grande maioria das vezes – não existem sintomas. O primeiro sinal acaba por ser uma fratura óssea, que pode ocorrer mesmo após um trauma leve. Outros sintomas incluem:

  • Dor nas costas devido a fraturas ou colapsos de vértebras.
  • Diminuição da altura com o tempo.
  • Postura encurvada (cifose)

Diagnóstico

O diagnóstico de osteoporose é feito através da avaliação da densidade mineral óssea (DMO), medida por densitometria óssea. Quando a DMO se encontra abaixo de um determinado limiar (T-Score < – 2,5) é feito o diagnóstico da doença. Em muitos casos, apesar da DMO se encontrar ainda acima do limiar referido, a doente apresenta já um aumento marcado do risco de fratura osteoporótica, devido à presença de alguns daqueles fatores que contribuem para a deterioração da qualidade do tecido ósseo, justificando por isso a instituição de terapêuticas adequadas. O diagnóstico de osteoporose deve também ser estabelecido, independentemente do valor da avaliação da DMO, na presença de uma fratura osteoporótica prévia.

Tratamento e Prevenção

A prevenção da osteoporose começa desde a infância com hábitos de vida saudáveis que proporcionam a aquisição de um pico de massa óssea adequado, pois é na infância que se forma, paralelamente ao crescimento do esqueleto. Na idade adulta têm de ser tomadas uma série de medidas destinadas a desacelerar a diminuição da massa óssea, sendo particularmente importante nas mulheres após a menopausa.

A prática regular de exercício físico, principalmente atividades com carga (como caminhadas, corrida ou aeróbica) ou exercício com resistência (com pesos por exemplo) estão associadas a um aumento da densidade mineral óssea e à diminuição do risco de fraturas. O exercício deve ser adaptado à gravidade da doença, sendo que os doentes com densidade mineral óssea muito baixa ou com história de fraturas de fragilidade devem evitar exercícios mais exigentes. A natação é um ótimo exercício para o reforço muscular, contudo não é um exercício eficaz para o aumento da densidade óssea, não sendo por isso recomendada para a prevenção da osteoporose.

Esta medida de prevenção é de extrema importância, para evitar um dos grandes flagelos da população portuguesa idosa, a sarcopenia, uma condição caracterizada pela perda progressiva de massa muscular, força e função. Pode afetar a capacidade de uma pessoa realizar atividades diárias e aumenta o risco de quedas e fraturas. Também por isso é fundamental a adoção de uma dieta equilibrada com ingestão adequada de cálcio e de proteínas. O cálcio, elemento essencial para o normal metabolismo do osso, está presente em maior quantidade no leite e derivados, mas também pode ser encontrado noutros alimentos, como os legumes verdes (brócolos e espinafres por exemplo), alguns frutos secos (como a linhaça ou o grão de bico) e em alguns peixes (como a sardinha). O organismo humano tem mais facilidade em obter o cálcio a partir dos lacticínios do que de outros alimentos, pelo que estes devem ser preferidos como fonte de cálcio.

Deve ser estimulada a exposição solar frequente (exposição de face, braços e mãos 15-20 minutos diários, sem proteção solar), para estimular a produção de vitamina D, essencial para a absorção de cálcio nos intestinos e uma correta mineralização do osso. Os níveis desta vitamina devem ser avaliados e corrigidos com aumento da exposição solar e através de suplementos, se necessário.

A avaliação e prevenção do risco de quedas é outra medida que deve ser implementada, principalmente nos idosos. É importante remover obstáculos como tapetes, iluminar adequadamente as divisões, utilizar calçado adequado (com sola de borracha e fechados), evitar medicação sedativa, corrigir perturbações da visão ou audição, entre outras medidas pontuais. Sendo fatores de risco para o desenvolvimento de osteoporose, é também fundamental a cessação tabágica e consumir bebidas alcoólicas de forma moderada.

Atualmente, estão disponíveis vários fármacos para o tratamento da osteoporose. Estas terapêuticas podem diminuir a perda de massa óssea e/ou aumentar a densidade mineral óssea através de diferentes mecanismos de ação. A decisão da necessidade de utilização de um fármaco é efetuada pelo médico, em conjunto com o doente, tendo em conta a gravidade da osteoporose, a existência de fraturas prévias e a existência de outras doenças que possam interferir com o tratamento.

A osteoporose constitui um grave problema de saúde pública com consequências muito sérias, pois verifica-se um aumento da mortalidade após a ocorrência de fraturas vertebrais ou da anca. Associa-se também a uma morbilidade significativa, como por exemplo: dor crónica, perda de autonomia, deformidades e depressão. Além disto a osteoporose apresenta um peso financeiro substancial relacionado com os custos diretos e indiretos associados à doença. Pode ser controlada e gerida com um tratamento adequado, mas a prevenção é fundamental. Manter um estilo de vida saudável, com uma dieta equilibrada e exercícios regulares, pode ajudar a preservar a saúde óssea por mais tempo e a reduzir o risco de complicações.

João Rovisco
(Médico, Reumatologista)

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