Quando o tema da nossa atenção é a fertilidade, várias questões se podem colocar: o que podemos e devemos fazer para preservar a nossa fertilidade? Como prevenir a infertilidade? E quando essa prevenção não é possível, como tratar?

A fertilidade tem uma relação muito direta com os nossos hábitos e estilo de vida, tanto no homem como na mulher. Fazer uma alimentação saudável, evitar tóxicos como o álcool e o consumo de drogas, combater o sedentarismo e evitar desvios de peso, nomeadamente a obesidade são, desde logo, uma ajuda preciosa para a nossa fertilidade. 

Se por motivo de doença (oncológica, genética ou outra) existir um risco acrescido de a própria doença ou o seu tratamento diminuir ou anular a produção de ovócitos ou espermatozoides, podemos sempre recorrer à criopreservação destas células, para utilização futura. Ainda no caso da mulher, a preservação da fertilidade é também cada vez mais usada por motivos sociais, ou seja, como a qualidade e quantidade dos ovócitos vai diminuindo ao longo do tempo, é crescente o número de mulheres que opta por criopreservar ovócitos para poder vir a ter filhos biológicos no futuro. Esta opção deve ser tomada, idealmente, até aos 35 anos de idade. 

Quanto à prevenção da infertilidade, mais uma vez, ressalvamos a importância de hábitos e estilo de vida saudáveis, aos quais acrescentamos outros dois fatores, também fundamentais: a idade da mulher que, com a pretensão de constituir família cada vez mais tarde, aumenta o risco crescente de não o conseguir, pelos motivos já referidos anteriormente e as doenças de transmissão sexual, que são também elas próprias, geradoras frequentes de infertilidade, nomeadamente feminina.

A infertilidade é uma doença que afeta cerca de 15% da população, e que se traduz pela ausência de gravidez após um ano de relações sexuais desprotegidas e regulares. Para proceder a uma terapêutica correta e adequada da infertilidade, há que proceder ao estudo do casal infértil, que revela cerca de 30% de causas femininas, 30% de causas masculinas, 30% de causas mistas e 10% de infertilidade inexplicada. O tratamento da infertilidade pode incluir terapêuticas médicas, nomeadamente para corrigir distúrbios hormonais, tratamentos cirúrgicos ou ainda técnicas de reprodução medicamente assistida, como a inseminação intrauterina e a fecundação in vitro

Os tratamentos de reprodução assistida foram desenvolvidos para tratamento da infertilidade mas, posteriormente, têm vindo a adquirir novas indicações e/ou possibilidades de utilização, como sejam: prevenção da transmissão de doenças (genéticas e virais), tratamento de familiar doente, a já referida preservação do potencial reprodutivo e a reprodução no contexto de famílias uniparentais ou homossexuais. Em Portugal, desde 2016 que as técnicas de reprodução assistida estão aprovadas para tratamento de mulheres sós e casais de mulheres, com recurso esperma de dador. 

De referir ainda que a reprodução medicamente assistida, com utilização de gâmetas de dador, tem tido uma evolução crescente em Portugal, tanto no contexto do casal heterossexual como pela alteração legal previamente referida. Neste contexto, deixava uma nota final: o adiamento da maternidade para idades cada vez mais avançadas é o principal responsável pela necessidade crescente de doação de ovócitos, pelo que fica a recomendação de as mulheres jovens não deixarem os seus projetos reprodutivos para muito tarde, terem uma vida saudável e terem ainda presente a possibilidade de preservação dos seus ovócitos para utilização futura.

Margarida Silvestre
(Médica Ginecologista e especialista em Medicina da Reprodução)

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