Adivinhar o futuro, sempre foi um desejo mais ou menos secreto de todos nós. Habituámo-nos às previsões da meteorologia, mas ainda não aprendemos a valorizar as previsões da Medicina. Hoje, o poder de prever e de predizer está muito para lá do presságio. É real e pode ser demonstrado pelas evidências, por imagens e números matemáticos. A inteligência artificial pode ajudar-nos a viver melhor. Saibamos aproveitar
Chamam-lhe a medicina 4.0 e adiantam que chegaremos em breve à 5.0. Vamos descomplicar, chegaremos áquilo que sempre justificou toda e qualquer medicina: o bem-estar do ser humano. Mas, se até há pouco tempo, o paradigma se baseava na ideia de tratar bem todos os doentes, hoje temos ferramentas para proporcionar uma melhor saúde a qualquer pessoa. Saibamos usá-las.
Primeiro porque ser saudável é muito mais do que não estar doente e, em segundo lugar, cada um de nós deve perceber, de uma vez por todas, que a responsabilidade também é individual. De nada adianta prever que o senhor X ficará diabético daqui a 5 ou 10 anos, explicar-lhe quais as ferramentas que pode usar para evitar a doença ou as suas consequências e o senhor X, além de não valorizar as previsões, continua a manter um estilo de vida totalmente oposto ao que deveria ter. A responsabilidade deixa de ser exclusiva da Medicina, que até consegue prever, e passa a ser do indivíduo, que tem a opção de aceitar ou não o conhecimento que a ciência produz.
Muito em breve, a medicina pode ser personalizada, preditiva, preventiva e participativa. Até agora, a medicina recolhia sintomas e partia em busca da confirmação da doença, que os exames de diagnóstico comprovavam. Hoje, a genética já consegue saber qual a predisposição para determinadas doenças e antecipar um diagnóstico. Se ao mapeamento genético, juntarmos o histórico familiar, os hábitos alimentares, a prática ou não de exercício físico e a inteligência artificial, com a análise de dados, conseguimos chegar ao tempo em que a medicina pode predizer. Ou seja, conseguiremos identificar doenças, muito antes que os sintomas apareçam. A oncologia e algumas doenças raras já utilizam essa mesma medicina personalizada, mas as potencialidades estendem-se a outras áreas e a terapêutica também poderá ser individualizada. Ou seja, as farmacêuticas terão de passar a contar com estes novos fatores e o medicamento não será produzido em massa, mas sim à medida de cada um e não tanto da doença, evitando-se os danos colaterais provocados pelos efeitos secundários.
Está aberta a porta para a medicina mudar destinos e traçar novos caminhos. A transplantação já ensaiou isso mesmo no século XX. Agora é o tempo de irmos mais longe e de elevar os conhecimentos matemáticos. Para aí chegarmos, é preciso mudar o olhar e potenciar o conhecimento em proveito da chamada vida saudável. Exige-se prevenção estratégica e uma gestão individual da saúde. A oftalmologia que defendemos e praticamos também tem esse potencial, porque goza da recolha exaustiva de imagens de diagnóstico que documentam e avaliam. Aguardamos que se encontre o algoritmo certo.
António Travassos
(Médico, Oftalmologista)
Um exemplo de texto que recomendarei aos meus alunos do 10º ano – Curso de Ciências e Tecnologias – para os ajudar a ver longe.
Obrigada, Dr. Travassos.
ReplyRosa Tavares de Almeida
Obrigada Dr. Pelas suas sábias palavras
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