Elástica e flexível é a articulação com maior mobilidade do corpo humano, mas também instável, razão por que, não raras vezes, desloca-se para fora do lugar. Numa luxação do ombro é isso que acontece, seja a praticar desporto, seja a pentear o cabelo ou tão só a rebolar na cama.

Entre ossos, ligamentos e músculos, há um conjunto de estruturas que fazem com que o ombro seja uma articulação muito móvel, proporcionando uma grande amplitude de movimentos, podendo tornar-se muito instável.

São estas características inatas que propiciam um dos traumas mais frequente, a deslocação do ombro ou, como é descrita na literatura médica, luxação do ombro.

Nesta articulação, a luxação acontece quando uma força externa acaba por dominar os mecanismos naturais desta articulação, que deveriam promover a necessária estabilidade.

Ou seja, os dois ossos que contactam um com o outro separam-se e, dependendo da circunstância, origina esse deslocamento. Os tecidos e as estruturas que estabilizam esta articulação também podem ficar lesionados. A gravidade deste tipo de luxação vai depender de tudo isso, e pode tornar-se numa lesão repetitiva (recidivante), muito incapacitante para quem sofre deste problema.

Nos desportos de contacto não é de estranhar que os praticantes possam sofrer uma luxação no ombro, principalmente, nas atividades que envolvem o lançamento de qualquer objeto. Mas a luxação não ocorre apenas quando se lança algo. Esta é uma situação que também pode acontecer a nadadores ou a alpinistas, mas também quando dormimos e rebolamos na cama para nos virarmos para o outro lado ou, simplesmente, quando penteamos ou lavamos o cabelo.

Uma dor intensa no ombro pode ser o primeiro sinal de que algo não está bem. Os movimentos ficam limitados e o ombro pode perder a sua forma arredondada. No episódio agudo, não é possível mobilizar o ombro e a dor pode ser muito intensa. Na maior parte das vezes não é possível colocar a articulação no sítio, e será necessário recorrer a ajuda médica, sendo aconselhável resolver o problema o mais rápido possível, para evitar ou reduzir a possibilidade de complicações e sequelas na articulação.

Quando ocorre em idades inferiores a 20 anos, pode tornar-se repetitiva e deve ser sempre avaliada, sendo frequente a necessidade de tratamento cirúrgico para resolução do problema, sobretudo se praticar alguma atividade desportiva. Em idades superiores, a probabilidade de o episódio ser único é maior e pode não haver sequelas, após algum tempo de imobilização e reabilitação apropriados. Após os 60 anos, é frequente existirem roturas associadas de alguns tendões essenciais para a mobilidade e força do ombro, sendo aconselhável uma avaliação e, nestes casos, a cirurgia será uma opção para a reparação da lesão.

Sempre que ocorre uma luxação do ombro é fundamental uma avaliação clínica e minuciosa por um ortopedista. Na maior parte dos casos, além do RX inicial, será necessário realizar uma Ressonância Magnética ao ombro, para visualizar todas as lesões que podem ter ocorrido durante o episódio de luxação e avaliar a necessidade de tratamento das lesões, que vai evitar futuros episódios ou algumas sequelas, como a artrose precoce do ombro.

A necessidade de tratamento cirúrgico deve ser discutida com o médico, havendo atualmente diferentes técnicas de tratamento, cada uma com indicações diferentes, dependendo das lesões que se encontram nos exames, da idade e da atividade física e tipo de desporto praticados.

Em muitos casos, é possível realizar o tratamento por cirurgia minimamente invasiva, por artroscopia, método que torna o pós-operatório mais fácil, menos doloroso e muitas vezes sem necessidade de internamento. Quando tal não é possível, pode haver necessidade de realizar cirurgia aberta, com uma pequena incisão anterior no ombro.

Qualquer destes tratamentos permite a recuperação completa da articulação e a retoma da atividade prévia à luxação. Contudo, é fundamental que todas as situações sejam avaliadas para evitar as sequelas e limitações associadas, quando este problema não é tratado da forma mais adequada.

Francisco Agostinho
(Médico, Ortopedista)

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