A transição entre os vários ciclos do sono noturno pode ser acompanhada de um leve despertar que algumas crianças assinalam com chamamento ou choro. Portanto, é normal que as crianças acordem de noite.
Se a criança não estiver habituada a nenhum ritual de adormecimento, rapidamente adormecerá de novo.
Porque acordam e choram?
Muitos pais, por ignorarem a normalidade deste sinal, acorrem a consolar a criança, pensando tratar-se de algum mau estar, dor ou pesadelo. E, quanto mais vezes vão ter com a criança, mais vezes ela chora ou faz birra… A repetição destas respostas facilita a progressiva intensificação dos chamamentos da criança, o que será ainda favorecido se o adormecimento do início da noite estiver associado a algum ritual, como a presença de um dos pais, a mão de um deles, o embalamento, uma refeição de leite, etc. Voltar a adormecer após um acordar noturno poderá exigir a repetição do mesmo “cerimonial” do início da noite, acabando as crianças por ficar mais tempo acordadas, e isto pode repetir-se várias vezes durante uma mesma noite e depois ao longo de cada noite da semana…..e do mês….
O acordar noturno das crianças é referido por 25 a 50% dos pais e parecem mais problemáticos em crianças dos 6 meses aos 3 anos de idade. Na maioria das vezes, estão associados aos fatores comportamentais anteriormente referidos. Mais raramente, outras situações, de carácter mais ou menos prolongado e variando com a idade, poderão estar em causa: cólicas, otite, refluxo gastroesofágico, despertares confusionais, medos noturnos, síndrome de pernas inquietas, dores de crescimento, ressonar ou outros problemas respiratórios, problemas psicológicos como divórcio dos pais, doença ou morte de um familiar próximo.
Despertares confusionais são episódios em que a criança não está verdadeiramente acordada (tem um olhar vago) e ocorrem habitualmente na primeira parte da noite. A criança pode ter um comportamento de agitação, mas tem um rápido retorno ao sono, não devendo ser acordada.
A continuidade do sono é importante?
As crianças que têm o sono fragmentado acabam por dormir menos horas do que aquelas que dormem a noite de seguida. A fragmentação do sono e a redução do tempo total de sono durante a infância podem revestir-se de consequências emocionais e comportamentais que incluem birras frequentes, deficiente desempenho escolar, problemas de concentração e um risco acrescido de hiperatividade e obesidade.
Nos pais, a fragmentação do sono pode refletir-se na sua atividade laboral, humor, ou mesmo na harmonia conjugal.
O que fazer?
Alguns pais acham que estes problemas são próprios do desenvolvimento e que “passam com a idade”. De facto, estes problemas são frequentemente transitórios, e podem resolver-se sem tratamento nalguns casos, mas o impacto no funcionamento diário das crianças e das famílias pode ser significativo. Numa minoria de crianças podem persistir durante muitos anos, até à idade escolar.
Assim, a melhor estratégia de atuação é a preventiva. As crianças devem ser deitadas ainda acordadas e adormecer por si próprias. A intervenção reduzida dos pais no adormecimento do início da noite, facilita o “auto adormecimento” em caso de acordar noturno. Quando as crianças já têm os hábitos instalados, é necessário recorrer a estratégias de desabituação.
As condições de adormecimento das crianças ditam, em geral, as características e a frequência dos seus acordares noturnos. O entendimento, por parte dos pais, da razão destes chamamentos/ choros, é crucial para uma maior tolerância e diminuição de resposta à criança.
O ideal é que esta atitude dos pais tenha início a partir do primeiro mês de vida do bebé. Afinal é de pequenino que se torce o pepino.
(pediatra, especialista em medicina do sono)
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Bom dia Dra.,
ReplyQue estratégias de desabituação se podem aplicar a uma criança com quase 2 anos que acorda no mínimo 2 vezes por noite e quer leite, ou colo ou chucha, não dorme mais de 3 horas seguidas…
Obrigada,
A aprendizagem do (re)adormecimento sem intervenção externa implica, de uma maneira geral, uma retirada gradativa dos estímulos (chucha, colo, leite, abanar, cantar, ou outros) utilizados no início do sono da criança. A técnica pode ter variações, a analisar em cada caso, e exige uniformidade de atitude independentemente de quem deita a criança.
ReplyBoa noite,
Tenho um filho com 3 anos e 9 meses e são poucas as noites que ele dormiu sem despertares noturnos. Ele “deve horas à cama”!
ReplyEm contexto de confinamento, os despertares noturnos são acompanhados com berros de acordar os restantes membros da família e o prédio inteiro. Quais as melhores estratégias?
Obrigada
Boa tarde, envio link de acesso à nossa última revista, onde encontra (pág. 56) um artigo sobre os pesadelos das criança. A revista está disponível no site do CCC, mas envio o link de acesso direto
https://ccci.pt/wp-content/uploads/2021/02/Revista-29V5.pdf
Se a situação já é prolongada e não encontrar ajuda nas estratégias apontadas no artigo,será melhor procurar ajuda de profissional de saúde para que possa ser feita uma avaliação mais pormenorizada. Esperamos ter ajudado.
ReplyBoa tarde, o meu filho tem 10 anos e adormece mais ou menos bem na cama dele mas em 90% das vezes acorda a meio da noite (entre as 4h e 6h), levanta-se e vem para a minha cama. Acordo com ele de manhã na cama sem me aperceber.
ReplyO que posso fazer para ajudar nessa situação?
Obrigada pela atenção
Bom dia, a nossa especialista, Dra. Maria Helena Estêvão, esclarece que se os episódios que relata nunca aconteceram e estão agora a surgir de novo, tente perceber se alguma coisa se está a passar com o seu filho – na escola ou em casa – e que o esteja a preocupar, ou ainda se tem medos ou pesadelos. Deverá estar também atenta e tentar perceber se há alguma diferença no comportamento diurno. A orientação que pode ser dada poderá depender da duração e causa dos acordares nocturnos. Esperamos ter ajudado.
ReplyBoa tarde doutora tenho um menino com 2 anos e meio e ele sempre acordou mais que 1 ou 2 vezes para mamar e agora anda a adormecer na escola a hora da refeição será que tem alguma coisa haver com o dormir mal de noite?
ReplyBoa tarde, a Dra Helena Estêvão esclarece que “um menino com dois anos e meio, que seja saudável, deverá dormir a noite de seguida. O facto de mamar durante a noite pode ter criado uma habituação para o acordar repetido. O adormecimento durante o dia terá que ser analisado com mais pormenor, nomeadamente no que diz respeito ao tempo de sono que a criança dorme durante as 24 horas e/ou se tem algum problema que faz com que o sono não seja reparador.” Esperamos ter esclarecido
ReplyOlá doutra.
ReplyTenho um filho de 5anos e meio que dormiu acompanhado até aos aos 5. Agora, nao tem uma noite em que nao acorde, pelo menos uma vez, e consiga adormecer sozinho. Normalmente, deita-mo-lo de novo na cama dele e esperamos que adormeça. Mas é muito desgastante. Como podemos fazer para ajuda-lo a dormir de novo sem a nossa presenca? Obrigado
Bom dia, A Dra. Helena Estêvão explica que o facto de a criança ter dormido durante 5 anos, sempre acompanhada, criou determinados hábitos de sono. Para conseguir reverter estes hábitos é necessário fazê-lo de forma gradual, utilizando um plano que é traçado de forma adaptada à criança e à família. Para o conseguir fazer de forma calma e orientada será melhor recorrer a um profissional que a ajude.
ReplyBoa tarde
ReplyA minha filha tem 5 anos e desde os 4 que dorme sozinha. Dormiu 4 ou 5 noites completas. Fora isso, acorda 1/2 ou 3 vezes durante a noite, chama, grita por mim e tenho que me deitar com ela de forma a adormecer novamente. Já tentei melamil, gomas de melatonina. Nada resulta! Estou desgastada. O que poderei fazer?
Bom dia, pela descrição que faz, embora a criança durma no seu quarto, ela não dorme sozinha, isto é, precisa sempre da companhia da mãe para adormecer. Cada caso deve ser avaliado individualmente, e para aplicar um esquema de desabituação deverá pedir ajuda ao seu médico de família/pediatra ou a um profissional especializado em sono da criança.
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