O Homem é fundamentalmente um ser social. Nasce integrado numa família, desenvolve-se em coletividade, trabalha em equipa e diverte-se em grupo. É herdeiro de uma tradição e cultura assentes na comunicação. A forma estruturante da comunicação humana é a linguagem áudio-oral, que permite a troca de sentimentos, experiências, conhecimento e emoções, de uma forma simples e direta, utilizando como veículo de comunicação o próprio ar que se respira. Não necessita de meios tecnologicamente desenvolvidos ou suportes caros: basta o aparelho fonador e o ouvido, com que vem “equipado de série”.

No entanto, nem todos os indivíduos podem desfrutar desta maravilhosa realidade: por problemas congénitos ou adquiridos podem ver-se privados da audição antes de terem adquirido e estruturado a sua linguagem oral. Uma criança que nasce com surdez profunda ou severa, não encontra nas próteses auditivas convencionais o apoio necessário e suficiente para alcançar uma audição que lhe permita adquirir uma linguagem áudio-oral de bom nível. Por esse motivo são limitadas as suas capacidades de desenvolvimento e de realização pessoal e profissional. Também os adultos que por infeções, trauma ou outras razões, adquirem surdez profunda ou severa não reabilitável por prótese convencional, vivem momentos difíceis na família e na sociedade.

Para ajudar estas crianças e adultos existe atualmente o implante coclear, um sistema eletrónico de elevada capacidade tecnológica, que vem realizar o papel do ouvido interno danificado, isto é, faz o trabalho das células ciliadas do ouvido, transformando a energia mecânica (som) em pequenos sinais elétricos que são lançados na rampa timpânica da cóclea e atingem o nervo auditivo. Assim, os sons e palavras do meio envolvente seguem a via auditiva, de forma a serem processados pelo cérebro.

A Ciência alcança com o implante coclear um grande sonho: substituir um órgão dos sentidos por um dispositivo eletrónico, com elevado grau de eficácia.

Os surdos podem voltar a ouvir! As crianças surdas, se precocemente implantadas, podem desenvolver uma linguagem muito semelhante à dos seus pares normo ouvintes e desenvolverem uma escolaridade normal integradas em escolas normais. A surdo-mudez tem os dias contados!

Para alcançar estes objetivos, pais e profissionais de saúde devem estar atentos e informados, de forma a promoverem um encaminhamento adequado das crianças.

É necessário que as equipas de implantes cocleares disponham de profissionais altamente diferenciados, trabalhando em equipa multidisciplinar, para proporcionarem um bom trabalho de diagnóstico, informação e adequada motivação aos candidatos a implante, bem como aos seus familiares. É necessário que a colocação cirúrgica dos componentes implantáveis seja realizada com sucesso e que, cerca de um mês depois, a equipa disponha de audiologistas com treino de programação. É igualmente necessária a colaboração de terapeutas de fala com vasta experiência nesta área específica de (re) habilitação auditiva.

Carlos Ribeiro

(médico, otorrinolaringologista)

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