Recriar o joelho tal como era antes de ser afetado pela doença é o objetivo da cirurgia assistida por robô. O detalhe permite-nos concretizar o alinhamento funcional, restaurando a anatomia e a função

Se não há duas pessoas iguais, é claro que os joelhos também não são todos iguais e, nalguns casos, as diferentes tipologias de joelho são mesmo visíveis a olho nu. Uns são mais afastados, os joelhos varos; outros mais juntos, os valgos. Esta observação pode ser efetuada por qualquer um de nós, mas com a análise da radiografia e da TAC é possível tirar outras conclusões e mais detalhes como – por exemplo – a inclinação da articulação. 

Hoje, alguns estudos baseados na análise dos dados da robótica já permitem desenvolver novas teorias de alinhamento e o objetivo agora é recriar o joelho antes do desenvolvimento da artrose, ou seja, quando ainda não existia doença. Estes estudos dividem os joelhos em nove tipos diferentes (dependendo do tipo de alinhamento e inclinação da interlinha articular) e vieram provar que existem três tipologias raras e onde a interlinha articular está inclinada para fora. Fica ainda claramente identificada uma tipologia de joelho para a população asiática e indiana, joelho varo (lateralizado) com a inclinação da interlinha articular para dentro.

O alinhamento funcional é um conceito fundamental na artroplastia do joelho, visando restaurar não apenas a anatomia, mas também a função do joelho. Ao combinar esse princípio com a cirurgia assistida por robótica, obtemos um avanço significativo na precisão e nos resultados a longo prazo. A realização de uma cirurgia personalizada que recria o joelho original (alinhamento e inclinação da interlinha articular), permite que sejam realizadas menos libertações dos ligamentos (menos ajustes dos tecidos moles), menos agressão cirúrgica e melhor recuperação.

O doente terá seguramente um melhor resultado quando é possível recriar o joelho antes do desenvolvimento da artrose, em vez de lhe impor uma morfologia padrão, que assumimos como mais frequente. Passamos a ter como objetivo um resultado individualizado e não a estandardização do procedimento – cirurgia de alfaiate e não de pronto-a-vestir.

A cirurgia assistida por robótica dá-nos a possibilidade da análise multidimensional da biomecânica do joelho: uma análise estática tridimensional, fornecida pela TAC, mas também da dinâmica ligamentar individual, obtida durante a intervenção cirúrgica assistida por robô. Com a análise dos dados fornecidos pelo sistema MAKO podemos traçar um objetivo para a cirurgia, individual e único para cada doente. Informações que nos permitem dar um passo gigante, uma vez que durante o processo da cirurgia convencional os dados que nos permitam traçar esse mesmo objetivo não estão disponíveis.

Outra alteração é a precisão com que executamos o plano efetuado… A cirurgia convencional, mesmo quando é realizada por cirurgiões muito experientes, demonstrou a existência de erros no alinhamento, superiores a 3 graus, em 30% dos casos. Tais erros podem causar um desvio do objetivo pretendido e um resultado aquém das expectativas, pois afasta-se da tipologia nativa do joelho doente. A precisão da robótica assegura a execução precisa de tudo o que foi planeado, para aquela pessoa e para aquele joelho, que é único.

Pedro Marques
(Médico, Ortopedista)

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