Há um efeito bola de neve. Ingerimos um excesso de calorias e engordamos. A gordura acumula-se e aumenta a resistência à ação da insulina. É este o caminho percorrido até se chegar à “Diabesidade”, o encontro entre a obesidade e a diabetes.
Uma vez obeso, mesmo que volte ao peso normal, será sempre potencialmente obeso, porque esta é uma doença crónica a que se associa uma grande variedade de distúrbios metabólicos, nomeadamente ao nível do metabolismo dos açúcares, levando ao aparecimento da Diabetes tipo 2. O aumento de peso confere uma resistência à ação da insulina, que não consegue abrir bem a “porta do açúcar” e, como tal, o açúcar fica a mais no sangue. Quando este processo ocorre durante muitos anos, o pâncreas, sem que seja necessariamente um “mau” pâncreas, esgota-se e já não tem mais insulina para fornecer, tornando a pessoa diabética.
É importante saber que 80% dos diabéticos tipo 2 tem peso a mais e o caminho é sempre o mesmo e vem de longe, há resistência das células à insulina, o que leva ao esgotamento do pâncreas ao fim de uns anos. Isto porque o tecido gorduroso produz substâncias que perturbam a ação da insulina nos seus locais de atuação, mas também porque o tecido adiposo leva à destruição gradual das células pancreáticas produtoras de insulina.
O motivo por que engordamos é sempre o mesmo: ingerimos mais calorias do que aquelas que gastamos. É esta diferença que se acumula sob a forma de gordura e o problema agrava-se quando as pessoas mantêm (no tempo) esse peso a mais (em excesso), que ganharam num determinado momento da sua vida, só porque comeram mais do que aquilo que gastavam.
Para inverter este “ciclo vicioso” é necessário ouvir e respeitar os vários conselhos e/ou recomendações alimentares, como comer de forma fracionada e devagar, evitar alimentos de grande densidade calórica e baixo valor nutritivo. Mas, é sobretudo no exercício físico que todos devemos apostar. Os músculos, quando estão a funcionar, permitem gastar mais calorias, mas têm também a vantagem de consumir mais açúcar. O ideal é que todos os dias se tenha um estilo de vida fisicamente mais ativo, associado a uma atividade física mais estruturada, como andar, pelo menos, meia hora por dia. O sedentarismo e as horas passadas no sofá devem ser substituídas pelo exercício físico, não só para controle da obesidade, mas também para controle da diabetes. A resposta está no importante papel que o músculo-esquelético tem no controle destas duas doenças crónicas, a obesidade e a diabetes. Isto porque, o músculo-esquelético representa cerca de 40% da massa corporal total e exerce um papel primordial no metabolismo da glicose. Responsável por 30% do nosso consumo energético, o músculo-esquelético é também um dos principais atores no processo de captação e libertação da glicose. Não é por acaso que se recomenda a necessidade de todos fazerem exercício físico, mesmo que se resuma apenas a andar a pé, durante uma meia hora por dia. No controlo da diabetes, a diferença é notória e tem resultados fracamente surpreendentes na glicémia.
Sabemos que a diabetes se associa ao risco de aparecimento de cancro, nomeadamente do cólon, da mama, além dos efeitos que provoca nos olhos, nos rins, no coração e na circulação sanguínea nas pernas, mas todo este cenário está muitíssimo interligado e dependente da forma como cada um consegue equilibrar o açúcar no sangue.
Num país em que 50% da população tem excesso de peso e 17% já é obesa e onde os índices de obesidade infantil entraram em valores preocupantes, com 32 % com excesso de peso e 11% já obeso (dos 7 aos 9 anos), temos de estar conscientes de que o futuro e a evolução que vamos dar a estas estatísticas são decididos individualmente. É um dever pessoal controlar a evolução destas duas doenças crónicas. Elas estarão permanentemente ativas, mas basta recorrer às ferramentas necessárias para que não ocorram danos irreparáveis e mortais.
Patrícia Oliveira (endocrinologista)
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