Escrevi este texto, há alguns meses atrás, deixando-o ficar “resguardado”, porque senti que podia causar mais fogo, que solução. Hoje observei-o! O texto é o mesmo, mas observei-o com outros olhos, outra visão.
Lembro-me que no passado era bastante utilizada a tática do contrafogo, para vencer os fogos mais ferozes. Hoje, vi este texto assim.
É da minha responsabilidade a partilha do mesmo, cabe a quem o lê, julgar e sentir-se motivado (ou não) para participar na sua propagação.
Obrigada.
O meu país arde porque é combustível ou comburente? Arde por maldade ou ignorância? Por oportunismo ou desleixo? Talvez porque queremos viver “melhor”. Arde por falta de cultura, de respeito e por desigualdade? Arde porque a sociedade se confunde entre o “faz de conta e as contas que as contas fazem”.
A sociedade é genericamente pobre. E, tanto mais pobre quanto é aliciada a gastar. São os mais pobres que gastam, os mais ricos investem. Quem paga? Os mais pobres… e até quando? As formas mais recentes das ciências do consumo, dominam o universo e permitem lucros exorbitantes, muitas vezes imorais e não raramente insustentáveis. Formam-se novas religiões, criam-se novos deuses e atiram-se para o inferno os que mais creem em Deus. O dinheiro é dono da verdade, do poder e da ilusão. Aliciam tudo e todos!
O homo sapiens é um criador de ilusões…
Deixou de fazer trocas usando a cevada (Sumeria), envolveu-se desde sempre em guerras religiosas, mas desde que criou moeda, nunca mais se preocupou com a religião do seu cliente. Com burka ou de bikini, compra e vende bolas de Berlim da mesma forma a um cristão, protestante, budista ou muçulmano. Negócio é negócio, independentemente do local, da época do ano, ou da saúde do vizinho. Na religião, na educação, na finança ou na bolsa, os explicadores / corretores, trabalham no hospital, no infantário, ou na universidade, alicerçados na elasticidade das suas inteligências e na plasticidade de múltiplas memórias, para atingirem, sem complexos, o sagrado lucro. No xadrez em que se movimentam, apertam os atacadores para corridas de velocidade, em que arrecadam o dinheiro como medalhados dos cem metros. Não acreditam na justiça porque nas metas que se propõem atingir, não há photo-finish nem árbitros.
Se administrarem um antibiótico que não tomariam, ou contaminam uma mosca que pousa na sua careca, ignoram o poeta porque sem parecerem o que são, são aquilo que ele parece “António Aleixo”, mas disso não se envergonham. Que estranha forma de vida a deste País que faz estátuas aos poetas e cultiva o cristianismo como doutrina humanista e credível para uma sociedade melhor.
Enquanto isso, o meu país arde por indiferença, por maldade, por falta de educação, e por mediocridade de alguns…
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Elucidativo este texto e tão poeticamente assertivo. Como ondas a formarem-se ao chegar à praia e que ao rebentarem espraiam o sentimento de grande parte do país. Temo que, após comentários ouvidos ontem de alguns responsáveis políticos (Primeiro ministro, Ministra da Administração Interna e Secr.Estado) , as suas palavras sejam ainda demasiado politicamente corretas.
ReplyClaro que para quem quer perceber e encaixar é fácil enquadrar estas palavras, mas será que quem o deve fazer, o fará?
Obrigada pela clarividência neste dias tão negros e…. nunca “resguarde” textos como este. É uma obrigação trazê-los, desde o “Fundo do Olho” para a luz do dia.
Não podemos deixar de agradecer as suas palavras Ana.
Certos que mais histórias do “Fundo do olho” surgirão, obrigada por nos acompanhar.
ReplyDepois de ter ouvido alguns políticos a falar sobre os incêndios … como soube bem ler este texto do Dr. Travassos.
ReplyMaravilhoso.
Obrigada
Muito obrigado por nos acompanhar Maria Cristina.
ReplyCurioso:
A quem tem tido o prazer de conhecer o Dr. Travassos fica primeiro a imagem (não criada pelos olhos) do profissional genial, extremamente preocupado com a qualidade do que faz, por vezes até dando a impressão, talvez errada, de pouco acessível … e eis que aqui se lê, de forma surpreendente (no bom sentido) um texto exteriorizando muito sentimento, um texto que comove.
Os meus sinceros parabéns !
ReplyA lucidez explícita no texto do Dr. António Travassos é de uma sublime grandeza, que reduz à pequenez tantos e exaustivos artigos ou comentários, feitos por figuras (que se consideram “importantes”) nos mais diversos órgãos da comunicação social. Vou partilhar este excelente texto.
ReplySem dúvida uma “MENTE BRILHANTE”, digo Eu. Outros dirão “HOMEM ATENTO” , “VISIONÁRIO”, ou não sei que Mais.
ReplyJá não “bastava” a “OBRA” bem à Vista de Todos Nós, ainda Nos apresenta um “Pensamento/Meditação” desta “Envergadura”.
Pena que as Nossas Élites políticas não estejam tão atentas ao que Os rodeia, quanto o Dr.º Travassos.
Deus Lhe dê Muitos e Bons Anos de Vida, para Bem da Nossa Saúde, e não só.
BEM HAJA