Dizem que sim e não é de agora. Gregos, romanos e egípcios tinham essa certeza. Hoje, além dos banhos ou vapores, junta-se o bem-estar, em forma de SPA. As propriedades curativas continuam por explicar, mas admitimos que será tão só uma questão de química
É o enxofre, o magnésio, o sulfato, o iodo…, ou seja, a mineralização presente na água, mas também a temperatura a que chega à superfície (25 a 50 graus) o que define águas termais ou “águas santas”. Os gregos sabiam que faziam efeito, tal como os egípcios e os romanos expandiram estes “banhos”, acrescentando-lhes o lazer.
Recuperámos esse passado e, hoje, ir a termas não é coisa de velhos, mas sim uma prática para todas as idades. O reumatismo, a rinite ou a asma deixaram de ser uma desculpa. Ir a termas não tem o mesmo significado que era dado há 20 anos atrás. Há o tratamento, mas também a prevenção ou tão só o bem-estar. E até há rotas específicas que podem incluir massagens ou programas de gestão de stress e ansiedade, sempre com o objetivo de proporcionar momentos de prazer e tranquilidade.
Bem-estar mental e emocional é a nova aposta dos programas incluídos nas termas. Não é preciso ter dores ou sofrer de algum mal. Mas, mesmo para esses casos de tratamento ou prevenção, assume-se que esta terapia natural tem impacto e poder, seja em banhos, vapores ou ingerindo a própria água. Depois, podemos acrescentar as massagens, o contacto com a Natureza ou com a História, bons passeios e, no final, banhos de água quente, quem não gosta? (as mais quentes têm temperaturas superiores a 40 graus). No entanto, continuamos a saber muito pouco sobre como atuam estas “águas santas” que brotam do solo, apesar de, para quem vai a banhos, os efeitos serem inquestionáveis.
Note-se que as propriedades físicas e químicas não são todas iguais e por isso existem águas termais que nascem com indicação para gastrites ou diabetes; ossos; eczemas e dermatoses; asma e bronquites; osteoporose; distúrbios cardiovasculares, equilíbrio do sistema nervoso, melhoria do sistema imunitário, problemas do fígado, tiroide, acne…. As propriedades curativas são diferentes e é a composição da água termal que dita qual o melhor efeito, para as mais variadas patologias. Porém, convém sublinhar que quem tem problemas cardíacos, problemas de pele ou hipertensão não controlada, deve consultar o seu médico assistente, antes de pensar em iniciar um programa de termas.
Por outro lado, o termalismo também pode ser prescrito por médicos dos cuidados de saúde primários e esta é uma terapêutica reconhecida e comparticipada pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), que a descreve como um recurso com impacto significativo nas condições de saúde e bem-estar da população.
A trabalhar este potencial de eventuais benefícios destas “águas santas” existe o projeto Aquae Vitae, com financiamento da Fundação para a Ciência a Tecnologia. É ali que tem estado a funcionar um Centro de Excelência em saúde e bem-estar pela água, que promete ser um ponto de unificação de informação sobre a temática “água termal”. Comprovar cientificamente as propriedades da água termal, como elemento crucial para a prevenção da doença e promoção da saúde é um dos objetivos. Existem outros, mas prevê-se que os efeitos terapêuticos das águas termais possam vir a ser comprovados pela investigação.
O consórcio Termas do Centro também tem vindo a apostar nessa verificação pela Ciência e apoiou um estudo realizado pela Universidade da Beira Interior e Centro de Neurociências e Biologia Celular, da Universidade de Coimbra, que acabou por concluir que as águas termais da região Centro têm propriedades anti-inflamatórias. Neste caso, confirmou-se que ir a banhos trazia benefícios no alívio de sintomas e no tratamento de diversas doenças associadas a processos de inflamação, depois de serem estudadas 16 termas da região Centro, uma vez que é a mineralização, a composição química e a temperatura da água que distingue as qualidades de uma e de outra.
Desconhece-se como e quando começou este hábito de ir a banhos, mas D. Afonso Henriques (o primeiro rei de Portugal) terá recuperado (da questionável) fratura em banhos termais, aqui bem perto de Coimbra e uns séculos depois, Leiria acolheu o primeiro Hospital Termal do mundo. Uns anos mais tarde, os franceses também perceberam que era importante mudar de ares de vez em quando e por isso implementaram a moda de irem a “banhos”. E se os franceses o faziam, todos os outros quiseram imitar esta nova forma de estar.
Conceição Abreu
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